quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Amor Livre




Amigos paraenses, ainda se pratica por aí o amor livre? Lembro que nos anos 90 se lia Roberto Freire, se falava como era careta querer exclusividade, como éramos descolados e modernos. Ninguém é de ninguém, ame e dê vexame, ciúme é apenas vaidade... Eu era jovem e confuso, me sentia culpado por não conseguir entender nem viver o amor livre. Queria uma namorada que ficasse só comigo, suprema caretice.
Não sei a quantas anda a coisa por aí, mas aqui no sul essa história nunca colou. Aqui vale o pragmatismo: amor livre na mulher dos outros é refresco. As pessoas não têm vergonha de querer exclusividade, sentir ciúme e fazer perguntas. Há uma distinção clara entre estar e não estar namorando, coisa que em nossa fluidez amazônica mal percebemos. Somos líquidos, não categorizamos tanto as coisas, vivemos os momentos, somos espontâneos. O problema é o seguinte: e os tímidos? E os que não conseguem conquistar as mulheres com tanta facilidade, como ficam no amor livre? Como eu ficava: perdidos, deslocados, sem entender bem o que acontecia.
Tímidos paraenses, esta é minha mensagem: não é pecado sentir ciúme (desde que não seja doentio!), não é errado querer namorar uma pessoa só. Não devemos dar ouvidos ao moralismo tradicional nem ao moralismo do amor livre. Amor é uma coisa muito pessoal: não há regras, não há um caminho único para toda a humanidade. As pessoas funcionam e amam de modos diferentes, não devemos sentir vergonha por ser como somos. É óbvio: quem não é bom na conquista, investe na profundidade e na complexidade do relacionamento. Quem é bom na conquista, fica se divertindo com ela e tem vantagens no amor livre. Cada um na sua, todos curtindo o delicioso Baré tutti-frutti com bolacha cremi cráquer.
Ah, tivesse eu pensado tudo isso quinze anos atrás!




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domingo, 13 de dezembro de 2009

Somos Geisy?

Pois o caso Geisy, ao invés de suscitar debates interessantes sobre os direitos individuais e o fascismo cotidiano, acabou virando um oba-oba sobre celebridades instantâneas. Resolvemos tudo bem à brasileira, com a futilidade predominando sobre a reflexão. Sim, acho que somso todos Geisys mesmo, jecas, deslumbrados e superficiais.


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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

NIT


Descobri na internet o N.I.T (brincadeira com Nietzsche), grupo misterioso de torcedores do Fluminense que se declaram nietzche-rodrigueanos. A sigla quer dizer Núcleo de Inteligência Tricolor, e muita gente boa faz parte. Será que existem outras associações parecidas em outros clubes? Eu, que perdi a fé no futebol, procuro uma luz. Um time que faça da filosofia sua aliada chama minha atenção. Cansado da paixão cega dos torcedores comuns, busco algo mais, algo que venha com bom humor e inteligência. Pesquisarei mais, mas por enquanto sou candidato a tricolor. E das laranjeiras.

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Buraco sem fundo



Amigos, o que está acontecendo em Belém? Outro bizarro episódio de nossa grotesca política está causando furor na mídia nacional. O prefeito da metrópole da Amazônia, criminoso reconhecido desde a época do diploma falso de medicina, parece que está sendo derrubado para dar lugar ao primo do Jader, é isso? Por Odin! Esta nossa terra nos dá um desgosto atrás de outro. Ainda bem que não vai ter copa do mundo para nós, seria uma vergonha mundial. Estamos há anos luz de ser uma democracia efetiva, na verdade estamos bem perto da idade média.
Se eu fosse Lúcio Flávio Pinto já teria me mandado para a Itália. Égua!




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domingo, 6 de dezembro de 2009

Bola murcha



O que é preciso para ter paixão por um time de futebol? Estar no campo, sentir-se parte de um organismo forte e vigoroso chamado torcida? Atribuir um significado mágico e glorioso a uma camisa, uma cor, um símbolo?
Em que esquina do caminho eu perdi isso tudo?
Quando a racionalidade começou a invadir sorrateiramente o mundo da paixão, e encher de perguntas um texto que antes só continha exclamações?
Quando a consciência do salário deles ficou tão importante?
Não sentirei eu falta de sentir dor e alegria legítimas por um time, ao invés desta curiosidade descompromissada?

Claro que não, né, mané!
Eles não pagam minhas contas no fim do mês nem têm nada a dizer sobre o filme da Coco Chanel. Eles não conhecem Dostoeivski, não assoviam canções do Echo & The Bunnymen nem me conseguem uns dias a mais de férias.
Estar cético sobre a paixão futebolística no Brasil é como ser ateu em um país ultra-católico como o México. É interessantíssimo! Revoltar-se contra a igreja no Brasil não é nada, eu quero ver é um homem adulto admitir que não se interessa por futebol. Esse sim merece meu respeito.



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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Alanismo é curiosidade


Durante a vida, várias vezes fui e serei chamado de hipócrita. Os que tão carinhosamente assim me chamam não conseguem conceber o que para mim é tão fácil, tão espontâneo: curiosidade. Ao deparar-me com pessoas, estilos de vida e culturas diferentes dos meus, minha primeira reação não é de rejeição, mas de curiosidade. Quero saber como o mundo funciona, como se formam diferentes maneiras de pensar, de agir, de sentir. Sempre fui assim, e estou bastante satisfeito assim sendo. Ora, para quem está acostumado a viver entrincheirado em uma posição, isso só pode soar como demagogia, hipocrisia e pieguice. “Que se interessar pelo diferente o quê, vai crescer, moleque!” E o moleque vai, cresce, mas continua sendo moleque.
Querer conhecer não significa não ter opinião, nem ser obrigado a gostar de tudo. Há coisas que não empolgam, evidentemente: Funk carioca, João Gilberto, filmes de ação, zumbis, paixão por um time, enfim, a gente sempre seleciona. Mas um dia eles também foram diferentes e estranhos, e eu prestei atenção a eles. Tiveram sua chance. Não me seduziram. Seguimos em frente, atrás de outras seduções. Seguimos sempre em frente no infinito processo de conhecimento e reconhecimento, que implica em se permitir dar uma chance. Curiosidade não é hipocrisia nem pieguice, é um modo de estar no mundo e manter a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranqüilo.

Tomates



Acompanho os protestos contra a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil. A arriscada política externa do governo brasileiro está metida em justificáveis encrencas em Honduras e com a Itália, mas a aproximação com esse fascistóide é de difícil explicação. O que queremos? Nos tornar uma potência nuclear? Precisamos mesmo puxar o saco desse tipo de pessoa?
A bela cultura persa, cheia de mitologia, literatura e música não merece a deplorável situação em que se encontra. Terra de grandes diretores de cinema como Majid Majidi, Mohnsen Makhmalbaf e Abbas Kiarostami, o Irã é fortemente avesso à pluralidade de opiniões, e o dito presidente não tem vergonha de admitir que odeia homossexuais, judeus e mulheres. Tomate nele.



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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Constrangedor




Em casa, leio as confissões de Santo Agostinho. A TV sem som mostra um jogo entre Palmeiras e Sport Recife. De vez em quando um torcedor aparece em atitude passional: choro, desespero, alegria incontida, ódio.
Desde o ano passado uma sensação me acompanha quando vejo esse tipo de coisa: constrangimento. É simplesmente constrangedor ver adultos investindo tanta energia e paixão em vão.
Em alguns momentos de minha vida já entendi isso, e até já senti algum arrebatamento ante uma grande partida. Hoje em dia, apenas observo e fico com vergonha pelos torcedores. Comparo o salário deles com os dos jogadores e cartolas. Comparo o futebol a uma igreja milionária que se sustenta explorando a boa vontade dos fiéis.
Minhas igrejas são outras, já sabem. Imaginemos apenas, caros leitores, que belo país teríamos se essa energia toda que gastamos com os times, gastássemos com nossa educação, saúde, qualidade de vida, justiça social. Se essa indignação ante um impedimento mal marcado fosse transformada em indignação ante a miséria, a injustiça, o preconceito. Se vestíssemos a camisa de cidadãos ao invés da camisa de um time, que belo espetáculo faríamos. Seríamos de fato os melhores do mundo.
Sei que futebol é alienação e êxtase, mas confesso que o lado êxtase tem sido cada vez mais difícil de perceber, de sentir. Estou, pelo segundo ano consecutivo, me desfutebolizando.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Carnivàle


É o nome de uma série americana que parou no final da segunda temporada e não recebeu a devida atenção. De temática complexa e produção bem cuidada, mostra o dia a dia de um grupo de artistas nômades de um parque de diversões nos anos trinta, na época da depressão econômica. Há uma rica simbologia e um trabalho de direção muito bem conduzido, o que explica o status de cult que adquiriu nestes últimos anos. Confira aqui.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Reforma orto-grafica


O que acho da reforma ortografica: inutil, pois nao faz o serviço de verdade. O que melhoraria mesmo nossa linda lingua seria o que o genio de Monteiro Lobato concebeu ha quase um seculo: acabar com os acentos. Extermina-los sem piedade, varrer para a lixeira. Outras linguas se viram muitissimo bem sem essa tralha pesada e desengonçada.
“E o acento diferencial?”, dirao. Preocupação legitima, mas injustificada. O leitor e esperto o suficiente para entender os contextos das palavras, sem ficar dependendo de bengalas. Nao somos? Vejamos: “Ele para aqui para tomar um cafe”. Ficamos terrivelmente confusos com o exemplo? Sentimos falta de algo? A língua, como a sociedade, os organismos e tudo o mais, evoluem. Ficar se apegando a sinaizinhos eh bobagem, vamos em frente e o ultimo a sair paga a cerveja. Quer dizer, a cêrveja. Ou melhor, a cêrvéjà.
Reforma boa seria esta. Quem sabe nos livrando de futilidades ortograficas nao acabamos aos poucos nos livrando de outras futilidades mais prejudiciais.


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Nós todos somos Geisy


A barbárie está bem próxima de nós, se aproximando a cada dia, e não podemos ficar calados. O ódio avança, de mãos dadas com o desprezo e a cegueira.
Mulheres são nossas mães, nossas irmãs, amantes, amigas... Como podemos ter ódio por elas, que fazem parte de nossa vida? Como explicar tanto desprezo por metade da humanidade, nós que as desejamos tanto? O que se percebe do caso da garota da Uniban, Geisy, é o ódio mal disfarçado ao corpo da mulher, à liberdade da mulher. A horda de reacionários mostrou suas garras, os fascistinhas universitários mostraram ao mundo o quanto somos um país que tem sérios problemas. E que diz adorar as mulheres, desde que elas estejam sob nosso controle, e façam exatamente o que queremos e o que esperamos.
Muito triste ver que mecanismos de culpabilização da vítima estão bem vivos entre nós: no site do Terra, 45% dos internautas disseram que ela merecia ser punida. Ou seja, quase metade da população está flertando com o pensamento mais retrógrado possível. Algo como dizer que uma vítima de estupro merecia tal ato porque ela “provocou”.
O controle rigoroso sobre o corpo é um dos primeiros sintomas do fascismo. Nosso país é doente, muito doente, em várias esferas: econômica, ética, social, moral... Quero continuar a acreditar que nas ruas ensolaradas de Belém e Porto Alegre nossas belas garotas (ou gurias) vão continuar andando com suas saias e vestidos do tamanho que lhes convier, sem ser lixadas e ameaçadas por isso, seguindo um mecanismo muito básico: quem gostar, que olhe. Quem não gostar, que vire o rosto e vá remoer sua inveja e seus fantasmas.




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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

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Sim, estamos calados e um pouco assustados nesses meses estranhos. Nossa voz, ainda que frágil, esboça uma reação.





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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Junho e espanto

Junho, fim de semestre, história de sempre.
Torcemos para que a vida triunfe, pois já estamos cansados de tragédias. Já as tivemos demais nos últimos tempos.
Torcemos para que nem a gripe nem a fatalidade nos alcancem. Para que o frio permaneça e alivie, para que todos possamos amanhecer.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Da série : "Alanismo também é poesia"


Whispers

But I have been a storyteller
Seen dimensions you would not dare to
Sprung in the atomic alleys of ever and then
No cage would make me sit
No wind could spin my soul
I have deciphered the flower of days
Pronounced the vowels of no religion
Read the scrolls of no wisdom
Caught the nightly bird with countless feathers
When you saw me running
That was when I dove
And when you saw me disappear in the dust
That was the lace, the trace and the platinum seal


Sussurros

Mas eu já fui um contador de histórias
Vi dimensões que não ousarias
Saltei nos becos atômicos de todos os tempos
Gaiola alguma me fazia sentar
Vento algum girava minha alma
Eu decifrei a flor dos dias
Pronunciei as vogais de nenhuma religião
Li os pergaminhos de nenhuma sabedoria
Apanhei o pássaro noturno de penas incontáveis
Quando me viste correndo
Foi que eu mergulhei
E quando me viste desaparecer na poeira
Foi o laço, o rastro e o selo de platina





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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Escória? quem?






Olha só, que gente bonita. Que gente inteligente e talentosa. Tu tens ódio delas?
O melhor remédio contra o preconceito é o conhecimento. Xingar os racistas e preconceituosos de idiotas é falar a língua de ódio que eles gostam. A única maneira de manter o mundo razoável e plural é apostar na sutileza.
Agora dá uma olhada nas coisas que essas e outras pessoas fizeram, e diz se há motivo real para ódio.
Racismo é preguiça de pensar. Preconceito é não querer ver a realidade. Tu és uma pessoa inteligente?



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terça-feira, 12 de maio de 2009

Política não é futebol


Uma das muitas razões de nosso insucesso como nação é a maneira infantil que temos de lidar com a política. Já critiquei antes o paternalismo e o personalismo excessivos. Agora faço o seguinte paralelo: a maioria esmagadora da classe média brasileira lida com os partidos como se fossem times de futebol, ou seja: escolhe um, geralmente para afirmar ou negar os pais, e fica com ele pelo resto da vida, independente do que acontecer. E neste país de mentalidade tão pequena só há dois disponíveis: PT e anti-PT.
Nos apegamos a nossas escolhas e ignoramos escândalos de corrupção, incompetência, má fé, tudo para afirmar que pertencemos a um dos dois partidos. Exatamente como crianças mimadas e preguiçosas, exatamente como no futebol. Pois eu vou aqui dar um passo além: PT e anti-PT são muito, mas muito parecidos. Ambos têm algum mérito, praticamente nenhuma ideologia, muita corrupção e fisiologismo, muito oportunismo e cinismo. O resto são preconceitos ancestrais de uma época em que havia algum sentido nos termos “direita” e “esquerda”, e muita preguiça intelectual e conformismo. Mexe essa bunda mental aí, meu filho, vamos pensar e analisar caso a caso, não tem nada garantido, não! Não há anjos em nenhum dos (falsos) lados de nossa política.

Auto-ajuda é piegas?


O gênero é campeão de vendas nesta era de tantos problemas e tanta gente perdida. Há auto-ajuda para todos os gostos e necessidades: como ficar rico, como transar melhor, como conquistar as pessoas, como melhorar a auto-estima. Tudo é válido, evidentemente, quando se busca melhorar como ser humano. Há que se tentar de tudo. Existe, no entanto, um problema: as tentativas são pessoais demais. Quer dizer, não há livro de auto-ajuda que sirva a todas as necessidades. E ter de ler o que não se precisa, ou com um tom que não é o que nos agrada, é uma experiência basicamente piegas. Auto-ajuda só funciona em condições muito limitadas: tem que ser a coisa certa no momento certo, e no tom certo. Muito específico. Não adianta achar que o que foi maravilhoso para nós em uma hora vai servir igualmente a todos.
Dostoievsky, por exemplo, tem sido bem mais útil em minha vida que qualquer livro de auto-ajuda, mas eu não mando mensagenzinhas em PowerPoint com trechos de Crime e castigo para as pessoas. Nem acho que ele vá servir para os outros como me serviu. A intensidade de minha experiência com ele pode ser compartilhada por alguém que tenha tido experiência semelhante, mas não pode ser embalada e dada de brinde.
Bom, então respeito muito todo tipo de tentativa. Todos nós sofremos e queremos melhorar. Só que nem a bíblia nem o alcorão, nem a torá nem o tao te king, nada é universal, embora todos eles possam conter mensagens universais. Os momentos e as necessidades das pessoas é que são (felizmente) tão diferentes.

sábado, 2 de maio de 2009

Eu falei....

O comentário anônimo sobre o post de futebol (abaixo) ilustra bem o que eu quis dizer: O time adversário é considerado a encarnação do mal absoluto na terra, e o "nosso" time é o grande justiceiro que vem eliminar este mal. Ingênuo,infantil, irracional e fascinante, como o próprio futebol.


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quinta-feira, 30 de abril de 2009

Eles estão vivos


"Acho que essas cidades racialmente saudáveis só poderão ser protegidas plenamente se estiverem dentro de uma Nação Ariana. Mas hoje, subordinadas aos governos judaizados dos Estados e a Brasília, vão sofrer, mais cedo ou mais tarde, com a praga das migrações."
De um site "orgulho branco"

Não é brincadeira, eles estão falando sério. Parece ridículo, não é? Mas é bem mais comum do que imaginamos. A internet está cheia desse tipo de coisa “orgulho branco” e “orgulho hétero”. E não são só pessoas retardadas, como seria de se esperar. Há gente inteligente, com um nível de argumentação razoável, tentando provar por a mais b que a raça branca é superior, que os judeus são um perigo para o Brasil, e toda essa história que nós achamos que tínhamos aniquilado quando demos um pau neles na segunda guerra. Não, a guerra não acabou. Quando é a próxima parada gay e o dia da consciência negra? Com certeza estarei lá!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Mecano

Os anos oitenta trouxeram muita porcaria, mas também foram uma época de florescimento de várias tendências vanguardistas no rock. Na improvável Holanda, uma banda em especial levou a extremos a associação entre o rock e os movimentos de vanguarda do início do século XX: Mecano (não confundir com o chatinho homônimo espanhol). Vejam aqui uma das canções clássicas da banda.



Aqui o site oficial da banda.



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terça-feira, 21 de abril de 2009

Os times significam algo


Os times de futebol não significam nada em sua própria cidade, jogando contra seu arqui-rival (ver comentário anterior). No entanto, um time do interior do Acre que vai a São Paulo e ganha uma partida está provavelmente fazendo um gesto político. Pode significar um brado de independência da periferia do país contra o centro dominante. Eu disse “pode”, não “é”. Depende da leitura que se faz. Esse espaço vazio de significado a ser preenchido é o que ainda torna o futebol interessante. A possibilidade do novo, do desconhecido, daquela jogada improvável, daquele gesto ou placar inusitado, isso tudo faz com que o futebol ainda me chame a atenção. Gostaria de ver um time africano ser campeão do mundo, um time do Espírito Santo na primeira divisão do brasileirão. Gosto das chamas do circo.

Os times não significam nada


Desde o ano passado venho tentando introduzir racionalidade em um terreno que é bastante refratário a ela: o futebol. Os times de futebol, por exemplo: o que eles significam? A resposta padrão é que o time para o qual se torce representa valentia, grandeza, coragem e superação, enquanto que os outros, especialmente o arqui-rival, representam covardia, roubalheira, viadagem, tudo de ruim que é possível conceber. Qualquer conversa a respeito se dá no plano discursivo: já sabemos de antemão quem são os bons e os malvados, só resta encontrar o meio mais astuto de provar isso. A racionalidade aqui pega mal, é coisa de quem não sabe brincar. Colocar-se no lugar do outro significaria admitir fraqueza, então está fora de cogitação.
Tudo muito bem, só que pensar e tentar me colocar no lugar de outros são meus esportes preferidos. Peguemos alguns times: Flamengo, Internacional, Palmeiras, será que significam algo a priori? Eles têm uma história, têm personagens que vêm e vão, mas o clube, qualquer clube, não tem uma essência imutável e gloriosa ou sempre odiosa. Por vezes os times são bravos e destemidos, por vezes são covardes, e outras jogam de maneira pragmática e cínica. Escolher qual desses momentos queremos enfatizar depende do capricho de se dizer torcedor de um ou de outro. O amor e o ódio que se tem pelos times, por mais intensos que sejam, ou justamente por isso, são apenas amor e ódio: Afetividade aplicada a algo com o qual não temos sequer uma relação direta, pois não estamos em campo jogando. Somos observadores que ganham um salário infinitamente menor que as estrelas do gramado.
Então, se é para suspender a razão, para deixar que a passionalidade pura tome conta, o esporte não é meu campo prioritário. Muito menos a religião ou a política. Minha racionalidade sucumbe com prazer frente à experiência estética e às pessoas com as quais me relaciono. Apenas pela arte e pelos entes queridos abandono a racionalidade.
Mas claro, como não sou chato nem mal humorado, acompanho os campeonatos, observo os sofrimentos e as alegrias das pessoas, por vezes até me empolgo com um grande jogo, mas sempre sabendo que tudo é efêmero, e com aguda consciência do meu salário junto aos salários deles.
Assim sou eu. Nem melhor, nem pior, apenas eu mesmo. Viva o Paysandu. Viva o Remo. Viva o futebol bem jogado, honesto e aguerrido, seja de quem for.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ele volta


Hoje, primeiro de abril, o primeiro sopro do frio, como a primeira carícia de uma amante que não vemos há seis meses. O toque suave e aconchegante que alivia o corpo e alegra a alma. Agora sim, agora o ano pode começar.

terça-feira, 31 de março de 2009

Na trincheira, sempre


Com a maturidade física e psicológica que a duras penas consegui alcançar, muitas coisas mudaram: Idéias radicais tornaram-se equilibradas, o desejo de ser notado foi substituído pelo de passar despercebido, o anarquismo original se tingiu de pragmatismo social-democrata. Por questão de adaptação e estratégia, mais do que por prazer, cuido de minha aparência. Por questão de bom senso, cuido de minha saúde. Tenho prazer em manter meu apartamento limpo e organizado, ao invés da bagunça histórica que me acompanhava.
No entanto, certas coisas não mudam. Os inimigos continuam os mesmos: os conservadores, os reacionários. Os racistas, que são tantos e andam tão à vontade nesta província sulista. Eles falam abertamente o que pensam, contam piadas, arrotam e peidam seu nojo pela pele escura aos quatro ventos, sem um pingo de vergonha. Se tu que estás lendo isto me conheces superficialmente, saibas logo desde já: sou amigo de negros. Toco suas mãos, os abraço. Eles bebem água de meu copo, cerveja de minha tulipa. Se tens nojo, nem te dês ao trabalho de me conhecer melhor. Sai deste site e procura tua turma.
Os paraenses podem achar estranho que eu precise dizer isto, afinal somos um povo de “morenos”, e a cor da pele para nós é só um detalhe. Mas aqui no sul é preciso marcar posição. É preciso que eu diga que não sou branco, que tenho orgulho de ser brasileiro e de meu sangue mestiço. Que sem negros, sem japoneses, sem árabes, sem judeus, sem gays, sem índios, sem diversidade enfim, este país seria um tédio.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Hard-working March

égua, volta ao trabalho é isso: de tão cansado, já não se escreve. As idéias vão circulando na cabeça, coisas de oriente médio, Persépolis e Palestina, e em breve elas se materializarão por aqui...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Magazine Luiza, pior que empresa de telefonia


Se você quer ser mal atendido, e quer ficar esperando uma eternidade para receber um produto já pago (à vista!) sem qualquer explicação, vá ao Magazine Luiza. Se quer se irritar, ser tratado com indiferença, fazer um pouco de fúria circular pelo seu corpo cansado, vá ao Magazine Luiza. Aqueles abutres estão lá esperando para roer teu couro e rir da tua cara de otário.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

La maison en petits cubes


O vencedor do Oscar de melhor animação é uma das grandes descobertas dos últimos tempos, uma pequena pérola cinematográfica. Sem palavras, o diretor japonês Kunio Kato consegue dizer muito mais em doze minutos do que o tal Benjamin Button em mais de duas horas. O personagem mergulha nas camadas de sua memória e nos leva junto, em um primor de delicadeza e profundidade. Assista aqui.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Mais slumdog


Agora que o Slumdog foi muito premiado, é um bom momento para colocar em prática os princípios do Alanismo. Lembremos: não sejamos elitistas, então nada de dizer que agora que ganhou prêmios e está muito famoso já não serve mais. Nem também ir com expectativas grandes demais e sair falando o óbvio “não é tão bom assim”. Também não sejamos deslumbrados a ponto de dizer que ele é ótimo e os prêmios só confirmam isso. Um prêmio é algo arbitrário, conjuntural, envolve diversos fatores políticos e econômicos, e acaba pouco dizendo sobre a obra em si.
Sei que é difícil descolar a obra de seu contexto sócio-histórico, mas de qualquer forma assistam o filme como se fosse apenas mais um filme. Sem elitismo, sem deslumbramento, de mente e corpo abertos à experiência única do cinema.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Viva a Suécia


Acompanho os acontecimentos na Venezuela e penso sobre nossa triste sina latino-americana de ter que personalizar tudo. Aqui um país não pode ter um sistema eficiente, onde as pessoas sejam peças que fazem a coisa andar. Nós temos que ter um grande pai, uma figura carismática que personalize as ações e sem a qual tudo seria o caos. Triste, isso, muito triste. Nos deixa em uma situação frágil como democracia e infantilizados como cidadãos. Por isso me posiciono contra Hugo Chávez e contra qualquer político “carismático” e populista. Políticos deveriam ser acima de tudo extremamente honestos, muito eficientes e equilibrados. Carisma é para artistas. Políticos são funcionários públicos de alta responsabilidade. O sistema é que teria de funcionar de maneira a garantir o bem estar geral e evitar desigualdades profundas, independente de que partido estivesse no poder.
Sim, caros amigos, me tornei social-democrata na política (estilo escandinavo, claro) e continuo libertário nos costumes.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Milionário da favela


O filme Slumdog Millionaire, que vai estreiar no Brasil em março com o infeliz título “Quem quer ser um milionário?”, justifica o barulho que vem fazendo. A narrativa do inglês Danny Boyle (o mesmo diretor de Trainspotting) é segura, moderna e tensa. Uma Índia estranha, miserável, que tem muito a ver com o Brasil em termos de violência e marginalidade, e da canalhice dos apresentadores de televisão. O questionamento central sobre o conhecimento, sobre como adquirimos nossa visão de mundo e para quê ela serve, é o que conduz e hipnotiza até o fim.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Silêncio


Não há respostas, apenas a interrupção abrupta e absurda. Perguntas. Lamentos e perplexidade. Amigo, é estranho, cada vez que lembro de teu rosto te vejo explicando alguma coisa, com ar didático e amigável, ou sorrindo aquele sorriso amplo que vai fazer falta neste mundo onde ficamos.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Adeus, Belém do Pará


Belém, nossa querida Belém. Hora de dizer adeus. Hora de acertar algumas contas. Primeira conclusão: a relação orgânica que meu corpo tinha com a cidade já não existe, evaporou-se em algum inverno sulista. Meu organismo já não pertence ao meio da urbanidade amazônica, já é um corpo estranho. Assustador ou libertador, é o que está acontecendo.
Os amigos, as pessoas queridas sim, continuam sempre aqui dentro, desnecessário citar exemplos. Mas a cidade, essa cidade, já não é minha. Isso o que ficou desta vez. A cidade descolou do meu corpo. As pessoas não. A cidade, bela sempre, insuportável sempre, se afasta e segue sua vida, como uma antiga amante de quem guardamos remotas lembranças.
São muitos anos. São muitas vidas. Muita distância. Belém é um ônibus que passa direto quando fazemos sinal, que nos ignora quando mais precisamos. Assim: Levantar o braço, pois o ônibus se aproxima. O motorista nos vê, e decide não parar. Apenas porque ele está no comando, por um simples capricho. Isso é Belém. Isso é Pará. Um ônibus que recusou nos levar. Esse é o limite, a linha de corte. Eu não quero fazer sinal para esse ônibus. Isso é Belém. Isso é Pará. Um ônibus que nos esnoba e nos afronta em nosso momento mais frágil, quando o calor nos derrete a alma ou quando a noite nos ameaça em lugares estranhos.
Desta vez algo se rompeu. Esta vez não foi como as outras.
Mas as pessoas, as relações que tenho com as pessoas, estas continuam mais vivas e sólidas que nunca.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Cultura pop


I
A cultura pop nos envolve, nos cerca, nos contém. Mas, como qualquer produto humano, ela não é monolítica nem tem apenas um significado. Não é totalmente maravilhosa nem totalmente alienante. Assim como o futebol, a cultura pop é ao mesmo tempo sublime e banal.
Tomemos os anos 2000. O rock, um dos grandes ícones da cultura pop, esvaziou, emburreceu. Perdeu conteúdo, ganhou pose artificial e deixou o lado brega tomar conta. O fenômeno emo ajudou a banalizar e tornar ridícula uma das manifestações mais viscerais do século passado. Grandes bandas ainda há, claro, mas a penetração delas no imaginário popular ficou limitada. Um ponto a menos para o pop.
A mídia pop deixou de ser totalmente comandado pelos EUA. O Japão chegou arrebentando com seus desenhos de olhos grandes e sua cultura anime e Cia. Isso é interessante, ajuda a criar outros eixos de produção do imaginário pop. Não conheço muito esse mundo, mas percebo a importância histórica. Tomara que outro países e continentes apareçam também. Um a um.
A internet ajudou a deixar o mundo definitivamente mais conectado. Ninguém precisa mais comprar CD’s nem DVD’s, nem depender da boa vontade das distribuidoras nacionais. Isso vale dois pontos.
Uma cosia chata do pop atual: marcha de zumbis, filmes trash, essas coisas todas infantilóides e monótonas. Menos um ponto. Por enquanto: 3 a 2 para o pop.

II
A música brasileira que circula na grande mídia continua a idiotice de sempre, com a eterna desculpa de que “é só pra dançar, não é pra ouvir”. Dançando, dançando, a gente vai afundando com funk carioca, sertanojo e porcarias do gênero. Menos um ponto. Em cidades como Belém, onde as pessoas não têm a opção de não ouvir, isto se torna particularmente dramático.
Em Porto Alegre é fácil, raramente se é obrigado a ouvir o que não se quer. Há a possibilidade do silêncio. Em Belém, só resta o sofrimento deste pobre, heróico e sofrido povo cabano. Talvez isto faça toda a diferença: a possibilidade de escolher quando e como vamos estar expostos à cultura pop, de lidar com esses elementos todos do nosso jeito, na hora em que quisermos. Não há porque sentir ódio por uma coisa que não somos obrigados a ouvir diariamente, em horários absurdos.

III
Se a cultura erudita sofre com a ditadura da sisudez, o perigo que sempre ronda o pop é a banalidade irreversível. A ditadura da diversão, do efêmero, do engraçadinho. Eu, que para os sisudos sou banal, e para os banais sou sisudo, me resguardo o direito de aproveitar o melhor de todos os mundos. Riso e diversão sim, mas profundidade também que nóis não semos retardados.