terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O futebol é nosso



Os foguetes estouram em Porto Alegre, as buzinas gritam loucamente: o Inter foi eliminado precocemente do mundial. Eu, que aqui torço pelo Grêmio, no entanto, não consigo ficar alegre. Eu, que desde criança nunca entendi nem senti as rivalidades regionais, fico perplexo e até um pouco triste.
Em Belém torcia pelo Paysandú, mas nada tinha na verdade contra o Remo, sempre torcia por eles em jogos contra times de outros estados. Eu não sei ficar alegre com o sofrimento alheio, portanto não sirvo para o futebol. Sou um torcedor de segunda categoria, que não entende bem as regras de atuação e de sentimento.
Sou professor, e enquanto o Inter vai jogando os alunos vão fazendo a prova final. O olhar de decepção e tristeza no rosto de um dos guris sintetiza tudo. Como ficar alegre com isso?
Minha maneira de gostar de futebol é estranha, foge dos padrões, mas eu sempre fui meio estranho e fora dos padrões, então tudo bem.
Só escrevo essas coisas para que outras pessoas que também não se encaixam na maneira dicotômica e maniqueísta corrente de se relacionar com o futebol saibam que não estão sozinhas. Podemos criar a relação que quisermos com tudo, podemos buzinar eufóricos, chorar de frustração, olhar com o canto do olho, ou ler uma partida como uma grande aula de filosofia. 


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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Natal para adultos II




Mais sobre Natal e magia: esqueci de dizer no post anterior que ao invés de ficar esperando que a magia aconteça, nós podemos arregaçar as mangas e criá-la. Ao invés de ficar esperando que nos façam felizes, podemos olhar ao redor e levar um pouco de sorriso e de felicidade às pessoas próximas. Não gosto do tom de auto-ajuda, mas sendo realista, a melhor maneira de não ficar triste é saindo do nosso próprio umbigo e prestando atenção aos pequenos e grandes desejos de quem está ao nosso lado. 



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Natal para adultos



Época de Natal: alegria, depressão, stress. Há tanta depressão no ar por alguns motivos simples: primeiro, a obrigação de estar alegre e curtindo a família. A maioria das famílias não são harmônicas e bem resolvidas. Família é lugar de conflitos, de gente que não tem afinidades, mas que é obrigada a conviver. Em um terreno tão difícil, ter a obrigação de estar feliz geralmente leva a tristeza e frustração.
Segundo, a expectativa pela magia. Os momentos mágicos ocorrem, sim, mas em geral sem data marcada. Quando agendados, a obrigação de que ocorram é outro fator depressivo e frustrante. Assistimos muitos filmes nos quais uma pessoa solitária acaba tendo momentos mágicos no Natal, e criamos a fantasia de que vai também acontecer conosco, e quando não ocorre...tristeza e desconsolo.
Resumindo, o que nos abate são as expectativas. Se aprendermos a lidar com os momentos mágicos sabendo que eles não têm data marcada, e sendo realistas sobre nossa relação com a família, daremos um grande passo para sobreviver ao Natal. 



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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Viva Vanusa!



Aqui vou resgatar a memória e a dignidade de Vanusa. Uma cantora brilhante, com um poder de interpretação único na música brasileira, que infelizmente acabou ficando famosa pelo infame incidente com o hino nacional. Assistam este vídeo, deliciem-se com a bela letra que ela mesma escreveu, e ouçam o discurso final sobre o tempo e o artista. Depois digam se a opinião que tinham sobre ela continua a mesma. Vanusa para sempre!


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Música e a falácia temporal

Tendemos a gostar do que escutamos quando adolescentes com mais passionalidade, mais emoção? Se os adolescentes caem na falácia temporal de achar que só o que é sucesso aqui e agora interessa, os adultos também se deixam seduzir pela mesma falácia ao admitir que gostam das músicas que escutavam quando adolescentes, e o que veio depois é só bobagem. Ficam presos aos “anos dourados”, cheios de nostalgia, e fecham os ouvidos ao que veio depois.

Proposta do Alanismo: abolir a falácia temporal. Chega de anos dourados e de aqui-agora. Todas as épocas e todos os lugares têm coisas maravilhosas e também têm lixo. O que conta é o quanto estamos curiosos, a fim de descobrir as coisas. Não existem épocas intrinsecamente melhores, existem situações que por algum motivo ou outro nos colocam em contato com certos tipos de sons.

Johnny Cash é genial desde os anos 50, mas aqui e agora temos Vítor Ramil, o maior compositor vivo da música brasileira (depois do Chico Buarque). Os Beatles foram maravilhosos, mas temos o Dengue Fever que também detona. Os exemplos são infinitos.
Todas as épocas são a minha época, todos os sons podem ser o meu som. Porque eu sou Alanista e eu quero muito mais. 


(como se tira esses diabos dessas setas antes dos parágrafos!)
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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A música de que gostamos

Porque gostamos do que gostamos? Uma pergunta cuja resposta poderia render extensas teses de doutorado, e que tentaremos abordar aos poucos. Especificamente na música, para limitar o campo.
Primeiro, consideremos que nosso gosto não é “natural” nem espontâneo: é construído socialmente. Basicamente vamos aprendendo a selecionar entre as opções que temos, de acordo com nossas experiências pessoais. Curiosamente não nos interessamos pela música folclórica do Paquistão, mas ouvimos sem problema estilos musicais correntes no lugar e no tempo em que nos situamos.
Nosso gosto é delimitado historicamente, mas também há uma boa dose de subjetividade envolvida. Aquela canção especial naquele exato momento pode mudar nossa vida, sabemos muito bem. Mas o que nos levou a ter acesso àquela canção especial? O fato objetivo de que ela circula em alguma mídia capaz de chegar até nós.
Então esses dois aspectos são importantes na experiência musical: que condições permitem que tenhamos acesso a certos tipos de música, e como essa música interage com nossa subjetividade, nos fazendo responder a ela de maneiras diferentes.
Pensemos nisto por enquanto, e antes do próximo comentário escutarei uma banda húngara maravilhosa chamada Muzsikas, cuja vocalista Marta Sebestyen tem uma das vozes mais perfeitas que o ser humano já produziu. Como cheguei até eles? Uma amiga me emprestou o CD de uma banda na qual ela fazia uma participação especial. Escutem aqui, talvez vocês concordem, talvez sejam indiferentes, pois assim é a subjetividade. 


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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nós, a maioria


A grande maioria somos, de um modo ou de outro, “de fora”. Os totalmente incluídos e satisfeitos com o sistema e com os valores do senso comum brasileiro são bem poucos. Vejamos: mulheres são a metade da população. Negros, outros tantos. Homossexuais, mais um monte de gente. Nortistas e nordestinos, muitos milhões. Coloque aí os gordos, judeus, feios, tímidos, velhos, de óculos, mal vestidos e pobres e não sobra quase ninguém para arrotar superioridade. Somos todos meio estranhos, não é verdade? Que bom. Isso é o que nos faz bonitos.
Porque na verdade somos a maioria. Este país é nosso, não importa o quanto os que se acham machos brancos ricos sulistas heterossexuais atléticos jovens extrovertidos bem vestidos reclamem. Os muito enquadradinhos e perfeitinhos são uma minoria, e como toda minoria, devem ter seus direitos e sua dignidade respeitados. Um dia todos podem chegar a perceber que o que é diferente não é sempre feio ou inferior.
 Eu e meus amigos somos todos meio loucos, estranhos, cheios de idéias e criatividade, cheios de vontade de construir um mundo mais interessante.
As idéias, ações e exemplos partem de nós. A responsabilidade é grande, pois os reacionários e fascistas estão ganhando terreno e influenciando as novas gerações. Nós que somos referência de alguma maneira não podemos vacilar: bom humor, inteligência, competência e um profundo senso de ética são nossas armas, um mundo justo e plural nosso objetivo. 


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sábado, 6 de novembro de 2010

Sol tirano

Chega o verão no Sul: época difícil, de dores de cabeça, tontura, cansaço. Volta o sol tirano, com suas garras amarelas e seu mau humor. São nesses meses que temos que provar que somos bravos, que não nos deixamos abater. Serão meses de concentração, de sobrevivência, de superação. Até abril seremos testados, e não há espaço para vacilos.
No verão qualquer caminhada parece mais longa, qualquer esforço gigantesco. A boa cerveja some dos bares, e só resta essa comum aí, amarelada e aguada, que os brasileiros preferem. O salário diminui, os bons filmes somem dos cinemas, tudo fica mais difícil. Ficamos suados e fedorentos.
Mas não é época para lamentações, é época de guerra. E desta vez eu tenho munição pesada: um ar condicionado. Venha, então, tirano amarelo. Estamos prontos para mais essa batalha, até que o suave alívio do outono retorne. 


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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Diálogo e boa vontade



Os números falam por si: Dilma se elegeria mesmo sem os votos do Norte e do Nordeste. Veja aqui. Antes de sair pregando o ódio contra os pobres do país, é bom analisar o que dizem os dados. Ódio e preconceito só destroem, apenas a boa vontade e o diálogo nos fazem melhores. Não tenha raiva dos pobres, tenha raiva dos desonestos e dos canalhas.Não votei em Dilma, mas agora que ela está eleita, quero que ela conduza o país a mais crescimento e qualidade de vida para todos, exatamente o que desejaria se o eleito tivesse sido o Serra, porque o país é mais importante que os partidos. 



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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Nem um nem outro


A histeria dos religiosos contra a Dilma quase me faz votar nela. Os evangélicos repudiam a candidata por que ela defenderia o aborto e a união do mesmo sexo, enquanto Serra não defenderia. Como eu defendo abertamente a união legal de casais do mesmo sexo, e como acho que o aborto deve ser uma questão de escolha exclusivamente feminina, na qual homem algum deve dar pitaco, dá até uma vontade de esquecer que pessoas como Jader Barbalho e José Sarney também apóiam Dilma.Além disso, esse discurso de "mãe" dos pobres é brega de doer.
Mas vou ficar na vontade, não vou votar até que apareça alguém com coragem de defender abertamente valores libertários, sem ter rabo preso nem com os antigos coronéis como a candidata em questão, nem com igrejas, como o Serra. (Será? E por quê diabos ele tem que se unir aos Democratas?)
 Este país e estes candidatos são muito família para mim. Eu sei, na vida há que se fazer concessões a tudo, amadurecer  é isso enfim ninguém vive isolado e tal e tal... Mas pelo menos votar ou não votar ainda escolhemos sozinhos. E até segunda ordem, o segundo turno para mim está bem branquinho.



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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vamos votar?



Hoje em dia parece que já não temos ânimo para discussões acaloradas sobre política. Os tempos em que a lenga-lenga de PT e anti-PT semeava discórdia entre amigos, familiares, colegas de trabalho, professores e alunos parecem ter ficado para trás. Estamos amadurecendo, ou entediados, ou temos mais o que fazer.
Apesar disso, vou me dar ao trabalho de escolher alguns candidatos e votar. Mesmo discordando da obrigatoriedade do voto, confesso que gosto de ir apertar uns botõezinhos de vez em quando, e torcer para que desta vez eles tragam gente competente, honesta e comprometida com o país. Se eu não fizer isto, os eleitores do Tiririca vão tomar conta, e eu ainda gosto deste país o suficiente para não querer que seja governado por essas criaturas.
Política não é algo divertido, não é apaixonante, não provoca grandes emoções. Mas é algo que interfere e muito em nossas vidas, então não podemos fingir que não existe. Nós, que temos alguns neurônios, temos que nos mexer e tentar fazer a coisa certa. 



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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

32 países de democracia duvidosa


São 32 países no mundo que ainda tratam seus cidadãos como gado, obrigando-os a votar. Desses, 50% (16) ficam na América Latina, e os outros espalhados pelos demais continentes. Na Bolívia a situação é tão ridícula que o cidadão pode ficar sem receber salário se não for votar. O Brasil faz parte dessa triste lista de países que confundem direitos com obrigações puníveis por lei caso não cumpridas. Democracia, aqui? Talvez, mas mais para não que para sim. Lista de países
Obrigar quem não tem noção nenhuma de política a votar é fazer com que as coisas continuem como estão, e que os coronéis, os candidatos caricatos e os que se colocam como “pais” e “mães” dos idiotas continuem se elegendo.
E tome Maluf, Collor, Sarney, Jáder, Duciomar e assemelhados no do povo. Nóis vota porque nóis gosta e nóis entende muito das coisa. 



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sábado, 11 de setembro de 2010

Nossos grandes amigos


Hoje, 11 de setembro, pessoas estão queimando livros pelo mundo. Pessoas fanáticas, cegas. Hoje eu proponho fazer carinho em um livro. Escolher um entre tantos de nossa coleção, aproveitar essa chuva que cai sobre Porto Alegre e folhear, cheirar, acariciar nossos grandes amigos. Mesmo que não concordemos como que dizem, os livros são nossos companheiros inseparáveis, nosso objeto de desejo, afeto e curiosidade. Mesmo quando defendem valores conservadores, reacionários, absurdos, eles merecem ser ouvidos. Hoje, dê um pouco de atenção aos amigos que te acompanham desde sempre, e que estarão contigo até o fim. 



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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Abaixo os coronéis

Cassaram a candidatura do dinossauro coronel Jader Barbalho ao senado. O dito coronel é há décadas uma vergonha para todo paraense, uma mostra de como somos semi-idiotas em se tratando de política. Somos tolerantes com as pessoas mais corruptas e grotescas, como o atual prefeito de Belém Duciomar, e tantos outros que nem vale a pena sujar esta página com seus nomes. Eu sou paraense, e nunca votei nem votarei em coronéis paternalistas nem em pessoas obviamente corruptas e de ficha suja.
Eu quero a social democracia escandinava em nosso estado. Eu quero competência, honestidade e comprometimento social. Quero Lúcio Flávio Pinto livre para escrever e publicar o que quiser. Será pedir demais? 



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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Chivas sem honra


Morando neste país parece impossível não falar de futebol. Analiso desta vez a merecida vitória do Inter na Libertadores, e a pouca dignidade do time do Chivas. Um time fraco, extremamente violento, que não respeitou sequer o hino nacional, e que atuou como mal perdedor. O caráter de um homem se revela nos momentos de dificuldade. Os jogadores do Chivas são medíocres como homens e como profissionais. Perderam sem honra nem dignidade, voltam ao México de cabeça baixa e merecidamente humilhados. Só que com os bolsos cheios, diferente da grande maioria de nós. 


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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Magia e ração de cachorro

A conquista da copa do Brasil pelo Santos sintetiza o que é o futebol: por um lado magia, superação, sonho. Por outro, ração de cachorro, torcedores coitados alimentando a fortuna de gente deslumbrada e arrogante, de moralidade suspeita e baixo nível de educação. Todos os times são assim, não apenas o Santos. Magia e alienação. Veneno e remédio. O que escolher?

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sexta-feira, 30 de julho de 2010

O indivíduo, não a sociedade


Princípio fundador do Alanismo: o indivíduo é mais importante que a sociedade. A pessoa tem o direito, na verdade o dever, de compor sua identidade levando em consideração o meio cultural ao qual está exposta, mas com a liberdade de questioná-lo e ir buscar em outras fontes elementos que lhe interessem. Nascimento não é destino. O que importa não é de onde viemos, mas para onde vamos.
Assim, eu sendo de Belém posso me identificar mais com a cultura de Buenos Aires, e me apropriar dos elementos interessantes de lá. Claro que não tendo nascido e sido criado lá, necessariamente vou acrescentar a esta escolha minha criação amazônica, mas esse é o charme e a excitação de escolher seus próprios caminhos. Se a milonga me diz mais que o samba, é um direito meu. É um sentimento, uma afinidade. Se o rock me toca mais fundo que a bossa nova, ele é quem vai me compor. E se eu quiser mergulhar na literatura russa e no cinema da Escandinávia, ali mergulharei, e eles serão parte da bagagem invisível que carrego no mundo.
Os regionalismos me interessam apenas em perspectiva. O norte e o sul são apenas pontos de referência, mas meu território é bem mais amplo: é o mundo inteiro, é o que eu conseguir percorrer. Identidade é algo para ser sacudido e pendurado ao vento, e cada um de nós tem um mundo de possibilidades a escolher. Angustiante e excitante, como a vida.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Argentina na vanguarda de novo


Já falei bem da Argentina, mas vou ter que repetir. É que eles são, a partir desta semana, o primeiro país da América Latina a legalizar o casamento gay. É isso aí, chega de hipocrisia e falso moralismo. O homossexualismo sempre existiu, e temos que lidar com o assunto de maneira adulta e democrática. Que o Brasil seja o próximo pelo menos, já que perdemos o primeiro lugar para eles. 


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sábado, 3 de julho de 2010

Viva a Argentina, sempre

Claro que fiquei feliz com a eliminação da Argentina na copa. Mas como esporte é esporte e vida é vida, lembro que na vida real somos muito mais próximos deles do que imaginamos. Política, geográfica e economicamente estamos próximos da Argentina. Eles têm uma literatura maravilhosa, uma música popular forte e vibrante, que vai muito além do tango: milongas, chacareras, chamamés, zambas...sem falar no rock deles, que desde os anos sessenta mostra consistência, variedade e profundidade. De cinema eles também entendem muito, e de gastronomia idem. O sistema de educação deles deixa o nosso no chinelo, e Buenos Aires é muito mais charmosa que qualquer capital brasileira.
Pena que não teremos a final de copa dos sonhos entre Brasil e Argentina. Nos resta torcer para o simpático vizinho Uruguai, e lembrar da sabedoria dos gaúchos, que conseguem um equilíbrio entre esses dois grandes países, como prova a canção de Wilsom Paim:

São duas pátrias festejando nesta dança
Repartindo a mesma herança, comungando a mesma rima
Disse o Sidinho que o Uruguai beija os nubentes
Une o casal continente, pai Brasil mãe Argentina



sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ainda Dunga

Por questão de coerência, continuo apoiando meu vizinho Dunga. Ele montou um time competitivo, organizou a zorra que estava, cancelou os privilégios da Globo. Só isso já é um grande feito: tratar a Globo como um órgão de imprensa a mais, que não merece regalias só por ser mais poderosa. Além disso, ele ganhou a Copa América, a Copa das Confederações, e foi muito bem nas eliminatórias.
Tudo bem, não levou alguns grandes jogadores, mas a vida é feita de escolhas. E perdeu para a Holanda, um dos melhores times do mundo. Se tivesse vencido teria virado herói, mas como perdeu será execrado publicamente. Somos volúveis assim.
Dunga, Lúcio, Júlio César, Elano e outros tiveram uma grande copa, e devemos nos orgulhar deles. Há vitórias e derrotas na vida, mas o que importa é vencer ou perder com honra, e isso nós tivemos. Perdemos lutando até o fim.
Game over, voltamos à vida real e ao nosso longo e monótono campeonato brasileiro. Acho que vou me dedicar mais aos livros, filmes e música agora...

Viva a Argentina


          Amigos de Belém, tenho uma pergunta: há torcedores da Argentina por aí? Digo, brasileiros que torcem pela Argentina? Aqui no sul há alguns, e hoje eles estão bem felizes. Geralmente são pessoas que se acham européias, de sangue italiano. São bem reacionários e têm nojinho do Brasil por ser uma terra de gente preguiçosa e de pele escura.
            Provavelmente nunca leram Borges nem Roberto Arlt, não sabem o que é um bife de chorizo, não se deleitam nas livrarias da Avenida Corrientes, nunca ouviram uma canção de Luis Alberto Spinetta. Não é uma identificação com a cultura do país. É apenas uma afirmação da “raça” branca como superiora, e do mestiço como sujo. Algo que deixaria os próprios argentinos bastante surpresos, e que lhes causa gargalhadas quando descobrem. “Brasileños que hinchan por Argentina, ¡que boludos!”.
            São uma minoria, felizmente. A maioria ou não se interessa por futebol, ou torce pela seleção como nós, e não tem problemas com nossa mestiçagem tão latina.
            E aí no Norte, existem torcedores “do contra”? E qual seriam os motivos deles, já que ser “morenos” para nós nunca foi problema?



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quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Suécia amazônica II

Muito boas as últimas notícias: J. B., W. e D. na cadeia, pagando por todos os crimes que cometeram. Uma reforma total na política paraense, com a competência importando mais que as afiliações partidárias.
Excelentes as manchetes desta semana: L. F. P. ganhou todas as ações contra os M., e está recebendo uma indenização milionária.
Como é boa a política paraense! Tem o verdadeiro sabor de nossa gente! Égua!


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A Suécia amazônica


            
Nós, paraenses, somos um povo sofisticado. Nunca elegeríamos alguém que já cometeu qualquer tipo de fraude, como se passar por médico sem ter diploma. Uma afronta a qualquer bom senso. Também jamais permitiríamos que houvesse em nosso território algo tão infame quanto o trabalho escravo. Jamais. Outra coisa que nunca faríamos: permitir que a política seja feita por coronéis, no estilo mais bizarro e caricato que só a América latina sabe produzir. Repudiamos qualquer tipo de paternalismo e coronelismo na política. Queremos gente honesta, discreta e capaz.
            Quanto à convivência com os vizinhos, somos muito sensatos: sabemos que um trabalhador precisa descansar, então nunca tocamos música alta após as dez da noite. Também nosso excelente transporte público é silencioso, agradável e cheio de profissionais qualificados e muito bem educados. Respeitamos o silêncio nos ônibus, assim ninguém é obrigado a ouvir músicas de que não gosta.
            Tudo isso aliado à nossa estrutura de primeiro mundo de esgoto, água e coleta de lixo nos deixa aptos a receber qualquer evento como copa do mundo ou olimpíada. Somos limpos, organizados e bastante focados em tudo o que fazemos. Honramos nossas tradições cabanas, lemos nossos escritores com a devida atenção, sabemos nossa história com detalhes, e planejamos nosso futuro de maneira lúcida e altiva.
            Cuidamos muito bem de nossos times de futebol, com administrações competentes que os colocam sempre entre os melhores do país, levando apenas alegria às imensas torcidas.
            Em ano de eleição continuemos assim, essa verdadeira Suécia amazônica. 




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terça-feira, 29 de junho de 2010

Superstição não é só uma chatice: é um perigo

Tudo bem, estou torcendo pelo Brasil e envolvido no clima da copa. Mas o olho segue aberto para os exageros. Lembremos sempre: é só um jogo. E, muito importante: não importa o que façamos, não importa a cor de nossa cueca nem o lugar onde sentemos, não vamos influenciar o resultado do jogo. Só quem pode influenciar isso são os jogadores, o técnico, enfim, quem estiver diretamente envolvido.
Torcer, sim, mas entrar nessa obsessão midiática por coincidências e superstição não. O jogo quem ganha são os jogadores em campo, com esforço, técnica, garra. Só isso. Nós somos meros expectadores. Não importa o número de letras do nome de ninguém, nem o planetinha tal, nem a cor tal, nem a macumba tal. São os onze lá dentro do campo quem ganham, e nós aqui, torcemos. Simples assim.
Superstição é algo muito perigoso. Quem acredita e leva a sério a astrologia, por exemplo, não é muito diferente de um racista. Explico: pré-julgar alguém por ter nascido em tal signo é o mesmo que pré-julgar pela cor da pele. E não me venham com essa ladainha de que nós sempre pré-julgamos, não vamos desviar o foco aqui. Ter nossas opiniões é uma coisa, mas influenciar diretamente o projeto de vida de outra pessoa é bem diferente.
Imaginem gente deixando de conseguir um emprego porque o chefe não gosta do signo tal, ou porque a numerologia do nome do candidato não é auspiciosa. É o mesmo que não contratar um baita profissional pelo fato de ele ou ela ser gay ou negro, ou ter orelha de abano ou não gostar de doce de leite.
É chegado numa mandinga, irmão? Tudo bem, seja feliz. Há algo de folclórico e engraçado nisso, sem dúvida. Mas não deixe de ver a beleza e a complexidade das pessoas. Não deixe de duvidar, e de ter humildade para aceitar que muitas das coisas que acontecem podem não ter conexão causal entre si, ou estar simplesmente além de nossa capacidade de interferência. 

(Minha contribuição para o "Cala a boca, Galvão")
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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dá-lhe, Dunga!


Como lidar com os gigantes? Nosso vizinho Dunga segue um caminho arriscado enfrentando os tubarões da todo-poderosa Globo. Bate de frente, chega para dividir, encara. Admiro o estilo dele. Direto, simples, objetivo e comprometido. Só que a Globo há décadas constrói a mentalidade de boa parte do país. Pode erguer ou destruir reputações. Mas cá ente nós, é muito bom quando alguém tem coragem de ir contra a Globo ou a CBF, não é? Quando alguém mostra a coragem que não temos. Dunga é o cara. Ganhando ou perdendo, não deve durar muito no comando, mas eu sei é que ele é o cara. Para ser meu maior ídolo agora só falta abrir a boca contra a corrupção e a total sujeira que há décadas dominam a CBF e esse tal presidente vitalício dela, cujo nome de tão sujo é melhor nem escrever. Queria ver o Dunga rugindo contra ele. 



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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Nós e o senso comum




Se vocês forem reparar bem, nós passamos boa parte de nossa vida tendo que ajustar nosso vocabulário e nossas referências ao senso comum. Nos acostumamos tanto a estreitar a linguagem e as citações para nos comunicar, que chega a ser um alívio falar com gente que nos entende. Por isso tanta gente que leu uns três livros acaba ficando arrogante e se achando o máximo, como se pertencesse a uma elite privilegiada. O senso comum brasileiro tem nível muito baixo, mesmo dentro da realidade latina. Compare o nível de linguagem e de assuntos de, digamos, um taxista argentino ou uruguaio e um brasileiro. Com raras exceções, perdemos feio. Raramente vamos além do lugar comum, da frase feita, do raciocínio raso e dos assuntos de sempre.
Nós que conseguimos ir além disso, costumamos ter duas atitudes: ou a do arrogante que arrota sua superioridade (quem freqüenta a universidade deve conhecer muita gente assim), ou do isolado e incompreendido que acaba se achando inferior aos outros por não se enquadrar, não dominar os códigos de socialização.
Proponho que não tomemos medidas drásticas. Admitamos que sim, lidamos com material intelectual mais sofisticado que a média, mas isso em si não nos torna especiais nem inferiores. Quando tivermos a tentação da arrogância, lembremos que de nada vale a inteligência sem o respeito aos outros e uma atitude ética. Quando nos sentirmos tristes e isolados, temos que saber que, sim, há outros como nós, que lidamos com naturalidade com o mero fato de ler um livro e discutir um filme, de procurar boa música, de dar alguns passos além do senso comum. E, finalmente, não olhar para o senso comum com desprezo nem medo nem condescendência. Quem foi criado no subúrbio e tentava ler lá seu Dostoeivski enquanto o vizinho ouvia pagode no último volume sabe do que eu falo. Só que o mesmo vizinho vai lá na tua casa e te ajuda a resolver um problema que tu não conseguias, como a pia vazando ou o interruptor de luz que dá choque.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Provando da própria razão


Agora entendo como se sentem as pessoas que amam um time ao lerem comentários racionais e bem construídos sobre o futebol. Agora está tudo mais claro: eu amo a seleção brasileira, contra minha vontade, contra qualquer prognóstico racional, independente de qualquer contexto. Assim como a maioria dos torcedores amam apaixonadamente seu time, eu amo essa camisa amarela. Não importa quem seja o técnico nem os resultados, é algo que a razão não dá conta de explicar.
Posso ser racional sobre Grêmio e Inter, Remo e Paysandú, mas quando toca o hino nacional e o esquadrão verde e amarelo entra em campo tudo adquire uma dimensão diferente. Quem já teve a experiência de ser brasileiro na Argentina ou em outro país de cultura futebolística forte pode entender. Quem, quando criança, colocou bandeirinhas na rua, pintou os muros e o asfalto, vestiu-se e ergueu a bandeira pode entender. Quem vibrou com um golaço do Zico, do Romário ou do Ronaldo vai entender.
Eu torço por esse time, e apoio a coerência de Dunga. Mesmo sem nosso conterrâneo Ganso, esse é meu time. Não acredito na aparente dicotomia entre futebol força e futebol arte: o que importa é ter técnica e garra, o resto vem junto. Arte e força não são excludentes. Paixão e racionalidade também não.


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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quando a bola rolar

A primeira copa do mundo que lembro ter acompanhado foi a de 82, com o super time de Falcão, Sócrates e Zico. A seleção que foi derrotada por Paolo Rossi. Lembro da empolgação a cada jogo, de minha camisa amarela, de como os passes de bola eram perfeitos, estilosos, como o jogo fluía. Hoje em dia há essa idéia estranha de que futebol arte é sinônimo de frescura e firulas desnecessárias. Futebol arte é eficiência, é técnica, é dominar a arte do futebol. Jogar bem. A vitória e a derrota fazem parte do jogo, às vezes são justas e às vezes não são. Mas futebol arte não é abrir mão de vencer para fazer gracinhas. Futebol não é uma guerra: é só um jogo.
Naquela época para o Alan criança futebol era magia e encanto. Hoje é um interesse, é filosofia, é um equilíbrio entre envolvimento e alienação. Engaja bem mais minha razão que meu sentimento. Raramente, em momentos especiais, a chama da emoção e do arrebatamento ainda brilha, ainda tenta dizer que está presente. Mas a criança sonhadora que eu era virou este adulto que luta e tem pouco tempo para devaneios.
É copa do mundo. A seleção brasileira para mim, ao contrário da maioria dos torcedores, sempre foi muito mais importante que os times. Acompanhei Grêmio e Flamengo sendo campeões do mundo nos anos 80, foi emocionante. Mas a seleção brasileira sempre teve algo a mais, algo além, que os clubes não proporcionavam. Nem mesmo quando o Paysandú foi campeão da copa dos campeões.
É copa do mundo. A derrota de 82 foi mais emocionante que as vitórias de 94 e 2002. Talvez pelo fato de ser o primeiro olhar da criança, a primeira experiência. A gênese de uma sensação.
É copa do mundo. Eu, que venho do Brasil que não tem vergonha de ser Brasil, do país que não tem pretensão alguma de ser europeu, e que se encontra muito bem na realidade da América latina, não me empolgo ainda. Eu, que amei essa camisa amarela mais que qualquer outra, que torço na contramão e penso demais quando deveria apenas sentir, não me contagiei. Eu, que ouso abrir a boca para dizer que não sou branco, que meu sangue e minha vida são decididamente mestiços, eu acompanho os fatos. Observo.
Glória ou indiferença, alienação ou revelação, o futebol está aqui, e temos que seguir aprendendo a lidar com ele. Não tenho respostas prontas, felizmente. Talvez as tenha quando começarem a tocar o hino e quando a bola rolar.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mais drops amazônicos


Bacuri, cupuaçu, muruci, taperebá, pupunha...a variedade de frutas é imensa. A pupunha é um caso interessante: a aparência não tem nada a ver, mas o gosto lembra o do pinhão. Come-se assada, e é muito boa para acompanhar o café.



Cabanagem – revolta popular que começou exatamente no mesmo ano da guerra dos Farrapos: 1835. Os cabanos chegaram a tomar o poder várias vezes, mas por falta de lideranças expressivas a coisa nunca andava. Batista Campos, um dos líderes intelectuais, morreu pouco antes da revolta estourar, por uma prosaica barba mal feita e gangrenada. Curiosamente, a revolta não faz parte do imaginário popular como os farrapos no sul. Para o paraense médio é apenas algo distante, que vem dos embolorados livros de história.
Um dia, com a experiência adquirida por aqui, vamos voltar para lá e criar o CTP, o Centro de Tradições Paraenses, e transformar os irmãos Vinagre, Batista Campos, Felipe Patroni e todos os cabanos em heróis épicos. 
Outra curiosidade: um dos livros mais interessantes sobre a Cabanagem foi escrito pelo historiador gaúcho Décio Freitas, uma obra bastante esclarecedora e bem escrita chamada "A miserável revolução das classes infames".





Alguns drops de nossa semi-invisível cultura amazônica


1- Tacacá – espécie de sopa forte, feita de tucupi (líquido amarelo extraído da mandioca) e outros ingredientes. Um deles faz os lábios tremerem, dando um barato interessante. O tacacá é servido em uma cuia, a qual é feita da outra parte do porongo, oposta à que se faz a cuia do chimarrão. Ou seja, tem formato de uma bola de futebol partida ao meio.

2- Eneida de Moraes – escritora paraense muito refinada, uma “adorável anarquista”. Rebelde, sutil, delicada, forte. Viveu muito tempo no Rio de Janeiro, onde atuou como jornalista e cronista. Chegou a ser homenageada por escolas de samba de lá e de Belém. Livros de destaque: Aruanda e Banho de cheiro.

3- Por que a Amazônia não é nordeste: porque a floresta é bem diferente do sertão. Porque falamos tu, ao invés de você. Porque compartilhamos um imaginário pan-amazônico com a Colômbia, a Venezuela e alguns países do Caribe, assim como o sul compartilha o imaginário do Pampa com o Uruguai e a Argentina. Porque somos da água, e não da terra. Somos Gabriel García Marques e Milton Hatoun, mais que João Cabral de Melo Neto. Porque respeitamos e admiramos nossos primos nordestinos visíveis, mas seguimos firmes em nossa invisibilidade. Porque temos olhos amarelos. 



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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Eu sou Chimamanda, eu sou Zitarrosa

Eu não vivo em um mundo de polaridades marcadas e inquestionáveis. Uma hora sou rock, outra sou milonga. Uma hora sou Remo, outra hora sou Paysandú. Não acredito nem no PT nem no anti-PT. Não sou crente nem ateu. Branco nem negro.
Meu mundo não tem apenas dois lados: tem infinitas facetas, é complexo e mutante. Está em construção, está em expansão. Nem melhor nem pior: meu.
Quem quiser viver em um mundo de escolhas certas e inquestionáveis, muito bem, que viva.
Mas eu vivo em um continente de possibilidades. Um país de múltiplos sentidos.
Por isso não posso ser do Norte nem do Sul: o mundo me chama, o mundo imenso me chama e me diz: filho.
Por isso sou Minas Gerais. Por isso sou a síntese impossível. Por isso, nem sou e continuo sendo.
Converso com Walt Whitman surfando vagões de trem. 
Voando sobre Budapeste, tomo chá com Alfredo Zitarrosa e envio cartões postais a Chimamanda Ngozi Adichie. 


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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Garra e malandragem são necessárias









Nós, homens adultos, frequentemente desprezamos os jovens, os chamamos de “moleques”. Pensei nisto ontem após a vitória dos meninos da Vila sobre os homens do Grêmio. O tricolor gaúcho, valente, glorioso e aguerrido, sucumbiu mesmo jogando bem (o primeiro tempo) ante à força ofensiva dos meninos do Santos. Em especial notei como bateram e agrediram o Neymar, o mais franzino de todos. O futebol atual, jogo para homens, não admite que um moleque fracote venha se meter a engraçadinho. Então meta-lhe porrada para ele aprender...
            O futebol é um jogo: emocionante, interessante, curioso, mas apenas um jogo. Não é uma paixão, não é a vida. É um jogo que acompanho agora com interesse renovado. E se não é a coisa mais importante da minha vida, não tenho por quê ficar irritado quando alguém faz uma suposta “molecagem”, quando joga com alegria. Como o que mais importa na minha vida são meu trabalho, as pessoas próximas, a arte e o conhecimento, como o esporte e a política são esferas periféricas, eu posso aprender a rir. Não é uma guerra, não são soldados defendendo uma causa épica: é um jogo. E no jogo, a malandragem, a sutileza, a leveza, às vezes valem tanto quanto a garra e a disciplina.
            Admiro muito a garra e a força do Grêmio, mas ontem elas não foram suficientes. Que nós, homens, aprendamos estas lições: não desprezar a juventude e a alegria, o improviso e o senso de humor em nome de uma suposta guerra. A guerra mesmo é a guerra da vida, e nela um pouco de malandragem e alegria na medida certa garantem nossa sobrevivência em tempos difíceis. 


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terça-feira, 18 de maio de 2010

Quem não concorda comigo é hipócrita?

Ontem escutei mais uma vez esse surrado argumento. Funciona assim: escolhe-se uma opinião pessoal (por exemplo: gostar de fofocas sobre celebridades), aplica-se a todas as pessoas e afirma-se que no fundo todos somos assim, e quem não admite é por hipocrisia. Tal argumentação, além de falaciosa, é extremamente autoritária. Não admite possibilidade alguma de divergência de opinião que não seja por má fé. Ninguém, no exemplo citado, pode simplesmente não se empolgar com a vida alheia sem ser hipócrita e pseudo-intelectual.
A generalização que ouvi foi sobre ser possessivo em uma relação: estava lá a mulher de um famoso poeta local na televisão chamando todos que não pensam e agem como ela de hipócritas. O tal poeta também lá estava, corroborando tudo e criando um clima de polemiquinha. Interessante que a poesia ande tão mal das pernas em nossa sociedade que precise desses golpes midiáticos.
Mas, é claro, quem não concordar com o que eu escrevi aqui é porque é hipócrita, porque no fundo tudo o que eu digo é a mais inquestionável verdade. Bazinga!

terça-feira, 11 de maio de 2010

O que falta para essa gurizada?

Envelhecer deve ser isso, então: achar que a música que a gurizada ouve é só barulho. Quando pensamos isso, estamos começando a ficar velhos. E a gurizada ouve umas músicas sem pé nem cabeça, com um cara de cabelo lambido berrando umas letras melosas. Será que era isso o que meus pais achavam quando eu ouvia Ramones aos quinze anos? Uma barulheira sem sentido
Sim, eles ainda têm guitarras, pesadinhas até. Têm bateria de verdade, são esforçados...mas falta algo. Falta letra, falta densidade poética, falta não ostentar o sofrimento como uma coisa bonitinha e fofa. Sofrer não é bonitinho: é foda, é duro. Comparemos uma banda como Joy Division, que eu ouvia na adolescência, com as de agora, em termos de letra: covardia pura, são mundos muito diferentes. Não adianta nem tentar.
Vamos ver se nessa década que agora começa nosso velho rock'n'roll vai voltar mais inspirado, e se a gente vai poder curtir o mesmo som que nossos sobrinhos ou filhos curtem. Será?



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terça-feira, 4 de maio de 2010

Playing for Change

Continuando com a campanha pela Paz na Internet, trago uma bela canção tocada por músicos diferentes em vários países. Esse projeto é bem interessante, e tem muito a ver com o que penso hoje em dia. Paz não é pieguice, é atitude. Enjoy it.





segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pela paz na Internet


Na internet estamos habituados a ler todo tipo de xingamento e discurso de ódio, mas no convívio cara a cara em geral somos mais civilizados. Uma leitura possível sobre essa contradição seria a de que no fundo somos todos bestas agressivas e preconceituosas, e essa “verdade essencial” se manifesta quando não temos o olho no olho. Outra leitura tentaria dar conta dos tipos de discurso específicos para cada contexto, sem se importar com “verdades essenciais”, mas analisando detalhadamente as condições de produção desses discursos. Prefiro a última, evidentemente.
No anonimato de nossos quartos facilmente cedemos às tentações de nos sentirmos poderosos e donos da verdade, sem precisar encarar um conflito de fato. Bom, sabendo disso, e sem querer entrar no campo da análise de discurso, venho propor o seguinte: que a Internet seja como um salão de festa. Explico. Que tenhamos ao escrever aqui neste espaço os mesmos cuidados e ponderações que temos quando estamos em um aniversário em casa de gente que não conhecemos muito bem.
Já há gente demais no mundo “desabafando”, precisamos ir além disso. Vamos desabafar com amigos, parentes, psicólogo, autoridade religiosa, conforme o gosto de cada um, mas vamos deixar este espaço mais limpo, mais criativo, cheio de idéias legais ao invés dessa agressão banalizada.
Eu não respeito quem “tem coragem de dizer o que pensa”. Respeito quem sabe a hora de falar e a hora de calar. Respeito quem abre mão de ficar gritando sua opiniãozinha de criança mimada aos quatro ventos, quem sabe lidar com o silêncio. Quem sabe cair como as folhas nestas tardes curtas de outono. 






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