Muitos gaúchos gostam de dizer que aqui é um país à parte, diferente do resto do Brasil. Dão várias justificativas para isso, das mais caricatas (porque aqui se trabalha) às mais sutis (o processo histórico de fronteira e a proximidade com os países vizinhos). Quanto às caricatas, não vale a pena comentar. Fiquemos com as sutis. Aqui há uma formação sui generis sim, com componentes culturais e históricos peculiares. As guerras contra os castelhanos, as revoluções internas, a influência intelectual e política do positivismo, a idealização de um gaúcho glorioso criada pelo movimento tradicionalista, entre outros elementos, deram uma característica marcante ao sul. Um lugar de cultura própria vibrante, rica e onde sempre há algo a descobrir.
Se eu fosse gaúcho, encerraria o texto aqui. Mas eu vou além. Vou falar da visão que eles têm do Brasil como um bloco indistinto do qual eles seriam diferentes. Visão restrita e problemática para os tempos atuais. Na verdade muitos estados podem gabar-se disso: de ter um processo de formação diferenciado e ser um caso à parte, não pertencendo totalmente ao Brasil. Pernambuco é um deles. Tem uma cultura e uma história próprias, tão interessantes quanto a gaúcha. Minas também. O Pará e o Amazonas também. Muita gente reivindica mais autonomia política e cultural em relação ao eixo Rio-São Paulo. Os amazônidas, o grande povo invisível, podemos dizer que nossa cultura se aproxima mais de países hispânicos vizinhos, tanto da América do Sul como do Caribe. Somos então, diferentes do “resto do Brasil”. A questão é que fora do Rio, São Paulo e provavelmente Brasília, todos podem encontrar material para ser mais diferentes que os outros, porque todos estamos em certa medida na periferia.
E estas periferias estão se conectando, ou estão ainda dependentes da mediação de Rio e São Paulo?
E estas periferias estão se conectando, ou estão ainda dependentes da mediação de Rio e São Paulo?
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