sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Carnaval: questões sobre diversão e identidade

Lidar com o carnaval é atualizar nossa relação com a diversão e com a identidade. Quanto precisamos de diversão, que preço estamos dispostos a pagar, até que ponto gostar da música que toca é importante, o quanto estamos carentes?
Na nossa querida Belém, uma desvantagem inicial: somos obrigados constantemente a ouvir música que não queremos, seja no ônibus, seja em casa ou na rua, ou seja: a possibilidade de que a diversão alheia nos irrite é muito grande. Reações passionais a ritmos como o axé, o brega e o sertanejo são mais frequentes e justificáveis.
Em nossa organizada e quente Porto Alegre, ouvir música que não se quer é algo bem mais raro. Ônibus silenciosos, vizinhos que respeitam o toque de silêncio das dez da noite, pouquíssima poluição sonora em geral. Muito fácil ser tolerante com a diversão alheia, ela não nos atinge como um soco. Refugiar-nos em livros, discos, filmes e na companhia das pessoas queridas é sempre uma opção digna, especialmente para quem tem ar condicionado em casa (não meu caso, infelizmente).
Outro aspecto do carnaval que incomoda muita gente (mas dois elefantes incomodam muito mais) é a suposta identidade nacional forjada inapelavelmente no samba, no carnaval e no Rio de Janeiro. E nós que ouvimos rock e milonga, como ficamos? E quem gosta de jazz e baião? E o pessoal do heavy metal e do carimbó? Identidade muito limitadora e midiática essa da mulata e do passista no sambódromo. Nós que temos componentes culturais que passam longe desses estereótipos somos menos brasileiros por isso? Desconfio que a quantidade de gente pelo país afora que não se sente à vontade sendo reduzida a uma cacofônica caricatura carioca é bem grande.
Compatriotas que preferem outros ritmos e outras diversões, este país também é nosso.


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