segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mais drops amazônicos


Bacuri, cupuaçu, muruci, taperebá, pupunha...a variedade de frutas é imensa. A pupunha é um caso interessante: a aparência não tem nada a ver, mas o gosto lembra o do pinhão. Come-se assada, e é muito boa para acompanhar o café.



Cabanagem – revolta popular que começou exatamente no mesmo ano da guerra dos Farrapos: 1835. Os cabanos chegaram a tomar o poder várias vezes, mas por falta de lideranças expressivas a coisa nunca andava. Batista Campos, um dos líderes intelectuais, morreu pouco antes da revolta estourar, por uma prosaica barba mal feita e gangrenada. Curiosamente, a revolta não faz parte do imaginário popular como os farrapos no sul. Para o paraense médio é apenas algo distante, que vem dos embolorados livros de história.
Um dia, com a experiência adquirida por aqui, vamos voltar para lá e criar o CTP, o Centro de Tradições Paraenses, e transformar os irmãos Vinagre, Batista Campos, Felipe Patroni e todos os cabanos em heróis épicos. 
Outra curiosidade: um dos livros mais interessantes sobre a Cabanagem foi escrito pelo historiador gaúcho Décio Freitas, uma obra bastante esclarecedora e bem escrita chamada "A miserável revolução das classes infames".





Alguns drops de nossa semi-invisível cultura amazônica


1- Tacacá – espécie de sopa forte, feita de tucupi (líquido amarelo extraído da mandioca) e outros ingredientes. Um deles faz os lábios tremerem, dando um barato interessante. O tacacá é servido em uma cuia, a qual é feita da outra parte do porongo, oposta à que se faz a cuia do chimarrão. Ou seja, tem formato de uma bola de futebol partida ao meio.

2- Eneida de Moraes – escritora paraense muito refinada, uma “adorável anarquista”. Rebelde, sutil, delicada, forte. Viveu muito tempo no Rio de Janeiro, onde atuou como jornalista e cronista. Chegou a ser homenageada por escolas de samba de lá e de Belém. Livros de destaque: Aruanda e Banho de cheiro.

3- Por que a Amazônia não é nordeste: porque a floresta é bem diferente do sertão. Porque falamos tu, ao invés de você. Porque compartilhamos um imaginário pan-amazônico com a Colômbia, a Venezuela e alguns países do Caribe, assim como o sul compartilha o imaginário do Pampa com o Uruguai e a Argentina. Porque somos da água, e não da terra. Somos Gabriel García Marques e Milton Hatoun, mais que João Cabral de Melo Neto. Porque respeitamos e admiramos nossos primos nordestinos visíveis, mas seguimos firmes em nossa invisibilidade. Porque temos olhos amarelos. 



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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Eu sou Chimamanda, eu sou Zitarrosa

Eu não vivo em um mundo de polaridades marcadas e inquestionáveis. Uma hora sou rock, outra sou milonga. Uma hora sou Remo, outra hora sou Paysandú. Não acredito nem no PT nem no anti-PT. Não sou crente nem ateu. Branco nem negro.
Meu mundo não tem apenas dois lados: tem infinitas facetas, é complexo e mutante. Está em construção, está em expansão. Nem melhor nem pior: meu.
Quem quiser viver em um mundo de escolhas certas e inquestionáveis, muito bem, que viva.
Mas eu vivo em um continente de possibilidades. Um país de múltiplos sentidos.
Por isso não posso ser do Norte nem do Sul: o mundo me chama, o mundo imenso me chama e me diz: filho.
Por isso sou Minas Gerais. Por isso sou a síntese impossível. Por isso, nem sou e continuo sendo.
Converso com Walt Whitman surfando vagões de trem. 
Voando sobre Budapeste, tomo chá com Alfredo Zitarrosa e envio cartões postais a Chimamanda Ngozi Adichie. 


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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Garra e malandragem são necessárias









Nós, homens adultos, frequentemente desprezamos os jovens, os chamamos de “moleques”. Pensei nisto ontem após a vitória dos meninos da Vila sobre os homens do Grêmio. O tricolor gaúcho, valente, glorioso e aguerrido, sucumbiu mesmo jogando bem (o primeiro tempo) ante à força ofensiva dos meninos do Santos. Em especial notei como bateram e agrediram o Neymar, o mais franzino de todos. O futebol atual, jogo para homens, não admite que um moleque fracote venha se meter a engraçadinho. Então meta-lhe porrada para ele aprender...
            O futebol é um jogo: emocionante, interessante, curioso, mas apenas um jogo. Não é uma paixão, não é a vida. É um jogo que acompanho agora com interesse renovado. E se não é a coisa mais importante da minha vida, não tenho por quê ficar irritado quando alguém faz uma suposta “molecagem”, quando joga com alegria. Como o que mais importa na minha vida são meu trabalho, as pessoas próximas, a arte e o conhecimento, como o esporte e a política são esferas periféricas, eu posso aprender a rir. Não é uma guerra, não são soldados defendendo uma causa épica: é um jogo. E no jogo, a malandragem, a sutileza, a leveza, às vezes valem tanto quanto a garra e a disciplina.
            Admiro muito a garra e a força do Grêmio, mas ontem elas não foram suficientes. Que nós, homens, aprendamos estas lições: não desprezar a juventude e a alegria, o improviso e o senso de humor em nome de uma suposta guerra. A guerra mesmo é a guerra da vida, e nela um pouco de malandragem e alegria na medida certa garantem nossa sobrevivência em tempos difíceis. 


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terça-feira, 18 de maio de 2010

Quem não concorda comigo é hipócrita?

Ontem escutei mais uma vez esse surrado argumento. Funciona assim: escolhe-se uma opinião pessoal (por exemplo: gostar de fofocas sobre celebridades), aplica-se a todas as pessoas e afirma-se que no fundo todos somos assim, e quem não admite é por hipocrisia. Tal argumentação, além de falaciosa, é extremamente autoritária. Não admite possibilidade alguma de divergência de opinião que não seja por má fé. Ninguém, no exemplo citado, pode simplesmente não se empolgar com a vida alheia sem ser hipócrita e pseudo-intelectual.
A generalização que ouvi foi sobre ser possessivo em uma relação: estava lá a mulher de um famoso poeta local na televisão chamando todos que não pensam e agem como ela de hipócritas. O tal poeta também lá estava, corroborando tudo e criando um clima de polemiquinha. Interessante que a poesia ande tão mal das pernas em nossa sociedade que precise desses golpes midiáticos.
Mas, é claro, quem não concordar com o que eu escrevi aqui é porque é hipócrita, porque no fundo tudo o que eu digo é a mais inquestionável verdade. Bazinga!

terça-feira, 11 de maio de 2010

O que falta para essa gurizada?

Envelhecer deve ser isso, então: achar que a música que a gurizada ouve é só barulho. Quando pensamos isso, estamos começando a ficar velhos. E a gurizada ouve umas músicas sem pé nem cabeça, com um cara de cabelo lambido berrando umas letras melosas. Será que era isso o que meus pais achavam quando eu ouvia Ramones aos quinze anos? Uma barulheira sem sentido
Sim, eles ainda têm guitarras, pesadinhas até. Têm bateria de verdade, são esforçados...mas falta algo. Falta letra, falta densidade poética, falta não ostentar o sofrimento como uma coisa bonitinha e fofa. Sofrer não é bonitinho: é foda, é duro. Comparemos uma banda como Joy Division, que eu ouvia na adolescência, com as de agora, em termos de letra: covardia pura, são mundos muito diferentes. Não adianta nem tentar.
Vamos ver se nessa década que agora começa nosso velho rock'n'roll vai voltar mais inspirado, e se a gente vai poder curtir o mesmo som que nossos sobrinhos ou filhos curtem. Será?



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terça-feira, 4 de maio de 2010

Playing for Change

Continuando com a campanha pela Paz na Internet, trago uma bela canção tocada por músicos diferentes em vários países. Esse projeto é bem interessante, e tem muito a ver com o que penso hoje em dia. Paz não é pieguice, é atitude. Enjoy it.