terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O futebol é nosso



Os foguetes estouram em Porto Alegre, as buzinas gritam loucamente: o Inter foi eliminado precocemente do mundial. Eu, que aqui torço pelo Grêmio, no entanto, não consigo ficar alegre. Eu, que desde criança nunca entendi nem senti as rivalidades regionais, fico perplexo e até um pouco triste.
Em Belém torcia pelo Paysandú, mas nada tinha na verdade contra o Remo, sempre torcia por eles em jogos contra times de outros estados. Eu não sei ficar alegre com o sofrimento alheio, portanto não sirvo para o futebol. Sou um torcedor de segunda categoria, que não entende bem as regras de atuação e de sentimento.
Sou professor, e enquanto o Inter vai jogando os alunos vão fazendo a prova final. O olhar de decepção e tristeza no rosto de um dos guris sintetiza tudo. Como ficar alegre com isso?
Minha maneira de gostar de futebol é estranha, foge dos padrões, mas eu sempre fui meio estranho e fora dos padrões, então tudo bem.
Só escrevo essas coisas para que outras pessoas que também não se encaixam na maneira dicotômica e maniqueísta corrente de se relacionar com o futebol saibam que não estão sozinhas. Podemos criar a relação que quisermos com tudo, podemos buzinar eufóricos, chorar de frustração, olhar com o canto do olho, ou ler uma partida como uma grande aula de filosofia. 


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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Natal para adultos II




Mais sobre Natal e magia: esqueci de dizer no post anterior que ao invés de ficar esperando que a magia aconteça, nós podemos arregaçar as mangas e criá-la. Ao invés de ficar esperando que nos façam felizes, podemos olhar ao redor e levar um pouco de sorriso e de felicidade às pessoas próximas. Não gosto do tom de auto-ajuda, mas sendo realista, a melhor maneira de não ficar triste é saindo do nosso próprio umbigo e prestando atenção aos pequenos e grandes desejos de quem está ao nosso lado. 



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Natal para adultos



Época de Natal: alegria, depressão, stress. Há tanta depressão no ar por alguns motivos simples: primeiro, a obrigação de estar alegre e curtindo a família. A maioria das famílias não são harmônicas e bem resolvidas. Família é lugar de conflitos, de gente que não tem afinidades, mas que é obrigada a conviver. Em um terreno tão difícil, ter a obrigação de estar feliz geralmente leva a tristeza e frustração.
Segundo, a expectativa pela magia. Os momentos mágicos ocorrem, sim, mas em geral sem data marcada. Quando agendados, a obrigação de que ocorram é outro fator depressivo e frustrante. Assistimos muitos filmes nos quais uma pessoa solitária acaba tendo momentos mágicos no Natal, e criamos a fantasia de que vai também acontecer conosco, e quando não ocorre...tristeza e desconsolo.
Resumindo, o que nos abate são as expectativas. Se aprendermos a lidar com os momentos mágicos sabendo que eles não têm data marcada, e sendo realistas sobre nossa relação com a família, daremos um grande passo para sobreviver ao Natal. 



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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Viva Vanusa!



Aqui vou resgatar a memória e a dignidade de Vanusa. Uma cantora brilhante, com um poder de interpretação único na música brasileira, que infelizmente acabou ficando famosa pelo infame incidente com o hino nacional. Assistam este vídeo, deliciem-se com a bela letra que ela mesma escreveu, e ouçam o discurso final sobre o tempo e o artista. Depois digam se a opinião que tinham sobre ela continua a mesma. Vanusa para sempre!


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Música e a falácia temporal

Tendemos a gostar do que escutamos quando adolescentes com mais passionalidade, mais emoção? Se os adolescentes caem na falácia temporal de achar que só o que é sucesso aqui e agora interessa, os adultos também se deixam seduzir pela mesma falácia ao admitir que gostam das músicas que escutavam quando adolescentes, e o que veio depois é só bobagem. Ficam presos aos “anos dourados”, cheios de nostalgia, e fecham os ouvidos ao que veio depois.

Proposta do Alanismo: abolir a falácia temporal. Chega de anos dourados e de aqui-agora. Todas as épocas e todos os lugares têm coisas maravilhosas e também têm lixo. O que conta é o quanto estamos curiosos, a fim de descobrir as coisas. Não existem épocas intrinsecamente melhores, existem situações que por algum motivo ou outro nos colocam em contato com certos tipos de sons.

Johnny Cash é genial desde os anos 50, mas aqui e agora temos Vítor Ramil, o maior compositor vivo da música brasileira (depois do Chico Buarque). Os Beatles foram maravilhosos, mas temos o Dengue Fever que também detona. Os exemplos são infinitos.
Todas as épocas são a minha época, todos os sons podem ser o meu som. Porque eu sou Alanista e eu quero muito mais. 


(como se tira esses diabos dessas setas antes dos parágrafos!)
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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A música de que gostamos

Porque gostamos do que gostamos? Uma pergunta cuja resposta poderia render extensas teses de doutorado, e que tentaremos abordar aos poucos. Especificamente na música, para limitar o campo.
Primeiro, consideremos que nosso gosto não é “natural” nem espontâneo: é construído socialmente. Basicamente vamos aprendendo a selecionar entre as opções que temos, de acordo com nossas experiências pessoais. Curiosamente não nos interessamos pela música folclórica do Paquistão, mas ouvimos sem problema estilos musicais correntes no lugar e no tempo em que nos situamos.
Nosso gosto é delimitado historicamente, mas também há uma boa dose de subjetividade envolvida. Aquela canção especial naquele exato momento pode mudar nossa vida, sabemos muito bem. Mas o que nos levou a ter acesso àquela canção especial? O fato objetivo de que ela circula em alguma mídia capaz de chegar até nós.
Então esses dois aspectos são importantes na experiência musical: que condições permitem que tenhamos acesso a certos tipos de música, e como essa música interage com nossa subjetividade, nos fazendo responder a ela de maneiras diferentes.
Pensemos nisto por enquanto, e antes do próximo comentário escutarei uma banda húngara maravilhosa chamada Muzsikas, cuja vocalista Marta Sebestyen tem uma das vozes mais perfeitas que o ser humano já produziu. Como cheguei até eles? Uma amiga me emprestou o CD de uma banda na qual ela fazia uma participação especial. Escutem aqui, talvez vocês concordem, talvez sejam indiferentes, pois assim é a subjetividade. 


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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nós, a maioria


A grande maioria somos, de um modo ou de outro, “de fora”. Os totalmente incluídos e satisfeitos com o sistema e com os valores do senso comum brasileiro são bem poucos. Vejamos: mulheres são a metade da população. Negros, outros tantos. Homossexuais, mais um monte de gente. Nortistas e nordestinos, muitos milhões. Coloque aí os gordos, judeus, feios, tímidos, velhos, de óculos, mal vestidos e pobres e não sobra quase ninguém para arrotar superioridade. Somos todos meio estranhos, não é verdade? Que bom. Isso é o que nos faz bonitos.
Porque na verdade somos a maioria. Este país é nosso, não importa o quanto os que se acham machos brancos ricos sulistas heterossexuais atléticos jovens extrovertidos bem vestidos reclamem. Os muito enquadradinhos e perfeitinhos são uma minoria, e como toda minoria, devem ter seus direitos e sua dignidade respeitados. Um dia todos podem chegar a perceber que o que é diferente não é sempre feio ou inferior.
 Eu e meus amigos somos todos meio loucos, estranhos, cheios de idéias e criatividade, cheios de vontade de construir um mundo mais interessante.
As idéias, ações e exemplos partem de nós. A responsabilidade é grande, pois os reacionários e fascistas estão ganhando terreno e influenciando as novas gerações. Nós que somos referência de alguma maneira não podemos vacilar: bom humor, inteligência, competência e um profundo senso de ética são nossas armas, um mundo justo e plural nosso objetivo. 


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