domingo, 27 de fevereiro de 2011

Adeus Moacyr Scliar e Benedito Nunes



Domingo triste para o Pará e o Rio Grande do Sul: no mesmo dia perdemos Moacyr Scliar e Bendito Nunes.
Scliar eu lia desde adolescente, quando caiu em minhas mãos um exemplar de A balada do falso messias. Aqueles contos estranhos, aquela atmosfera quase surreal me cativaram logo, e nestes últimos vinte anos outros tantos livros do grande médico porto alegrense me fascinaram: O exército de um homem só, A guerra no Bonfim, A festa no castelo, A orelha de Van Gogh... De nosso mestre Benedito Nunes ficam suas profundas lições de filosofia e literatura – um dos poucos brasileiros que explicava Heidegger, um dos que iluminaram nossas leituras de Clarice Lispector.
            Tristeza de norte a sul, e o consolo de que em algum lugar além de nossa compreensão estas duas figuras geniais estão travando um diálogo daqueles, com a marca da cordialidade e da sabedoria que tanto os caracterizaram. 

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Bate-boca amazônico

O que tenho a dizer sobre o bate-boca entre o Pará e o Amazonas é que Milton Hatoum é um tremendo escritor, que o Papão ganhou do Peñarol de Manaus lá dentro, e que todos tomamos tacacá e comemos cupuaçu, além de compartilharmos o mesmo rio, que é nossa grande estrada. 
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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Gostos e respeitos

Sempre me questiono sobre o valor estético, o quanto ele é subjetivo e difícil de ser definido objetivamente. No post anterior expliquei que como o trabalho com a letra é muito importante segundo meus critérios musicais, os estilos que não privilegiam isso, para mim, são mais fracos. Por isso, o sertanejo universitário é esteticamente desprivilegiado em minha opinião. Isso não faz de mim nem melhor nem pior que ninguém, é só minha opinião, baseada em meus critérios. Outras pessoas podem dizer que letra é algo secundário, o que importa é o “ritmo” cativante e tudo bem, sejam felizes, mas meus critérios são bem claros: temos uma língua belíssima e muito rica, então vamos usá-la.Canção é letra e música, se desprezarmos um dos elementos, ela fica prejudicada.
Todos os estilos musicais podem conviver muito bem, sem ataques nem grosserias, se respeitarmos um princípio básico: não obrigar o vizinho a ouvir o que ele não quer, especialmente nos horários de silêncio. Mas escrever sobre o porquê de não gostarmos de um estilo específico acho válido como tentativa de compreensão dos critérios alheios, e talvez até como chance de ser questionado e entender o outro lado.
Agora vou encerrar e ouvir o fio de cabelo comprido, que já esteve grudado em nosso suor...
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domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Universitário" com muitas aspas

            É comum ter uma certa resistência ao escutarmos algo diferente, algo que quebra nossas expectativas. Precisamos de tempo para nos acostumar. Jazz, música clássica, certos tipos de rock, há muitos estilos que não são assimiláveis à primeira audição. Mas o que dizer do que causa repugnância pelo contrário, por ser monotonamente igual? É o caso do sertanejo “universitário” - As aspas vão porque não se consegue explicar exatamente o que há de universitário na coisa.
            Musicalmente é o sertanejo de sempre com uma roupagem pop, harmonias óbvias, refrões fáceis, tudo muito sem stress, visando claramente o sucesso comercial. As letras, sempre as letras, o que fazer. Para mim letra é parte essencial da canção, e sim, é muito importante ser criativo nas letras. Há quem discorde, mas eu sou viciado em palavras, adoro letras bem construídas. Então, não há como gostar dessa nova geração de sertanejo, nem entender porque diabos eles são “universitários” (e as aspas vão sempre). Paixão rimando com coração, festa rimando com diversão. E só. Os dois únicos temas que 90% da música popular consegue abordar, sempre de maneira burocrática e preguiçosa.
            Bem pouco, não é? Para a tradição da canção brasileira, bem pouco. Temos um século de canção popular, centenas de obras primas, dezenas de compositores geniais, e vamos abrir mão de tudo isso para ficar com esses caras? Que se dane Chico, esqueçamos Cartola, ao diabo com Renato Russo e Chico Science, quem quer saber de Noel Rosa e Cadão Volpato. Coração e paixão, viva a festa, é só o que conseguimos articular. E assim gaguejando, satisfeitos com tão pouco, vamos levando este país para a frente. Quem deixou essa geração passar no vestibular da música brasileira?



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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Itamar propõe voto de adultos


Finalmente um político tem a coragem de propor o fim do voto obrigatório. E é ele, quem diria, Itamar Franco. Tomara que passe, e que a próxima medida seja a redução drástica do número de deputados e senadores no congresso, assim como redução do salário deles. São centenas de sanguessugas mamando em nossos impostos, uma grande vergonha para um país que acha que está se tornando primeiro mundo. Estamos um pouco melhores, mas ainda muito, muito longe de ter uma democracia decente. Ainda estamos discutindo o básico do básico, que é a obrigatoriedade do voto. Nunca pensei que diria isso, mas desta vez Estamos com Itamar Franco!



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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Candombe

Aí estou eu, feliz e desajeitado, batucando o “Candombe del mucho palo” dos Olimareños. (o segundo da esquerda para a direita)



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Passo

Da série "Alanismo também é poesia":

Eu andei em todas as aves, corri sobre lençóis
Escorreguei roliço na camada entre os olhos e o franzir do cenho
No centro do salão de baile
Fiquei imóvel e silencioso
Na multidão da Rua da Praia
Agi como cachorro assustado, gritei por nada
Quem me julgou agora atira dinheiro pela janela
Quem me acolheu ajeita as flores no vaso branco
Eu finjo que me importo: com isso e aquilo
Finjo esquecer o que dizem sempre
E fingindo, se cresce e se civiliza
Passo por branco e por sério
Mas a floresta em mim sorri, e vou à caça
Porque tudo é caça neste tempo
Quase tudo
Passo por isso e por aquilo
Porque passar é o que se faz
E elaboro receitas novas para as festas de poucos convidados

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Novo blog em inglês

            Meus caros, novidades: O Guamundo está se expandindo. A partir deste mês estou desenvolvendo um blog em inglês chamado “The Wanderings of Curupira”, no qual sigo mais ou menos a linha deste aqui, só que com os olhos ainda mais voltados ao mundo. Lá eu não explico o nome, mas aqui entre nós digo que é uma referência ao belo poema “The wanderings of Oisin” de W. B. Yeats, com nosso toque amazônico. Vamos para o mundo, mas ficamos aqui em Belém e Porto Alegre, sobrevivendo a este verão. See you all there. http://wandercurupira.blogspot.com/

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