quarta-feira, 23 de abril de 2008

Teoria da Literatura II – Níveis da experiência estética


A experiência estética, como escrevi na última publicação, não é apenas racional. Ela acontece em vários níveis. Primeiro, é necessariamente sensorial porque essa é a nossa forma de perceber o mundo. O objeto artístico entra pelos olhos, ouvidos, tato, olfato, paladar. Segundo, temos uma resposta emotiva à arte, ela desperta medo, raiva, alegria, júbilo, etc. Terceiro, a experiência estética tem um componente racional, lógico, que vai ganhar maior ou menor ênfase de acordo com a personalidade de cada um, do lugar e do tempo em que a pessoa se encontra, do momento de vida dele ou dela. Quarto, a experiência estética é algo compartilhado socialmente. É uma maneira de inserção ou de afastamento de um contexto social, uma maneira de dizer “pertenço” ou “não pertenço”, de adesão ou ruptura. Quinto, ela toca nossos valores, nosso julgamento moral, nosso certo e errado. Um filme que começa com alguém cheirando cocaína ou com um beijo homossexual elicita esse tipo de reação logo de cara.
Sexto, ela é ou pode ser transcendental, intuitiva, algo que pode se utilizar da razão, mas que vai além dela. É uma iluminação, uma epifania, claritas, um coincidir com a obra de um modo não mediado pelas palavras. Eu digo pode ser porque tem gente que não chega nesse nível, se contenta com os anteriores, aí só nos resta lamentar.
A teoria da literatura, assim como todo o discurso acadêmico, se utiliza de um único nível, o racional, para tentar dar conta de toda a experiência estética. Trabalho duro, cheio de percalços e becos sem saída. Trabalho que vale a pena, desde que se saiba de saída que temos sérias limitações pelo simples fato de escrever, usar um código lingüístico específico, sobre algo que é vivido em tantos níveis diferentes e é tão maior do que nosso humilde e necessário trabalho de pensadores da cultura.

Teoria da literatura I – Objeto? Que objeto?

A vida objetiva ameaça congelar as idéias do Alanismo, mas entre uma aula e outra, entre a Ipiranga e a Terceira Perimetral (traduzindo para a língua paraense: entre a Almirante Barroso e a José Bonifácio), além de muita música no mp3, o que tem dominado o caminho é a teoria da literatura. Assim:
A literatura é uma forma de arte, então uma boa teoria precisa estar atenta a todas as questões relativas à estética e à filosofia da arte. Muitas concepções válidas para a pintura, o cinema, a música devem valer para a literatura, para começar.
Mas não é só isso: a literatura tem proximidades perigosas com outras formas de contar, de utilizar o texto oral e escrito. O contar um caso, o texto jornalístico, filosófico, científico, muitas vezes se aproximam do texto literário de maneira a borrar as fronteiras em alguns casos. A novidade é que estou tendendo a achar que isso não é necessariamente algo ruim. A teoria da literatura pode correr o risco de não ter seu objeto de estudo bem definido, e pode tirar proveito disso.
Vejamos: o texto literário, como querem alguns, se caracteriza pelo caráter ficcional. Como explicar então a prosa poética, os ensaios de Borges e tantas outras formas de literatura que não têm no caráter ficcional seu ponto predominante?
O texto literário, como querem os formalistas russos, se caracteriza pelo uso da linguagem de maneira a criar um estranhamento. A literariedade (em russo literaturnost) definiria esse uso especial da linguagem, que é necessariamente diferente da linguagem cotidiana. Muito interessante, mas também insuficiente. A fala cotidiana de certos lugares está tão impregnada de metáforas e outros recursos “literários” que torna impossível levar essa classificação muito adiante. E muitos textos literários estão impregnados de uma dicção cotidiana, e não deixam de ser literários por isso.
O texto literário, segundo outros, se define por ser um fim em si mesmo, não ter um caráter útil nem pretender ensinar algo como os textos de outra natureza. Bobagem grande, pois todo vivente que escreve é porque alguma coisa deve estar querendo com isso. Não existe nada de desinteressado nem a passeio no texto literário, existem sim muitos conflitos, contradições e outras pequenas violências. Textos criados com objetivos religiosos, jornalísticos ou científicos podem virar textos literários, e vice-versa.
Ficamos assim por enquanto: a literatura pode ter algo de ficção, algo de estranhamento, algo de não precisar servir para nada prático, mas a definição do que é ou não um texto literário varia de acordo com a época e o local.
O fato de ter um objeto de estudos um tanto impreciso não é uma fragilidade da teoria literária. É um desafio constante, um convite à flexibilidade e a novas possibilidades, ao inusitado, afinal a teoria literária nada mais é do que uma tentativa de racionalização acadêmica de algo que é apenas em parte racional e racionalizável, a obra de arte.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

The Doors?


Confirmado para dia 12 de abril show dos Doors em Porto Alegre. Sim, isso mesmo. From Los Angeles, California e tal...Valerá os oitenta reais? O espírito de Jim Morrison baixará e todos entrarão em transe tribal, ou será apenas uma maneira dos velhinhos ganharem uns trocados?