sexta-feira, 3 de junho de 2011

Plebiscitos e os novos tempos



Estamos preparando agora o novo Brasil. Um pouco melhor que o de antes, mas ainda com muitos dos problemas antigos (corrupção, fisiologismo, conservadorismo, etc) e alguns novos para os novos tempos. Essa pulverização em diversos estados, que para muitos se apresenta como uma solução, me parece no momento mais uma maneira de fazer com que os velhos problemas se multipliquem. Nós gostamos tanto de nossos políticos que vamos dar a chance de eles se reproduzirem mais ainda! Mais deputados, senadores, governadores. Ao invés de criarmos desenvolvimento nas regiões mais pobres através de incentivos aos setores produtivos, estamos multiplicando o que temos de pior: o animal político.
            O que será do Parazinho depois da divisão? Já não somos grande coisa agora, mudaremos da noite para o dia? Vejam o exemplo do Tocantins: dividido de Goiás, não mudou grande coisa, continua com uma elite pequena e uma classe baixa bem ampla. Marabá será a nova Curitiba? Santarém vai virar uma Porto Alegre? Não acho muito provável, mas enfim, não podemos nos reter a nossa visão Belemcêntrica. O interior tem o direito de escolher seus próprios caminhos, mas baseado em outras regiões que conseguiram um padrão de vida melhor podemos ter certeza de que não são os políticos que puxam o desenvolvimento: é a cultura. Tem que estar na cabeça e na prática diária das pessoas a idéia de cidadania, de crescimento, de melhora. Na cabeça da maioria dos sulistas estas idéias estão bem claras. Nós, do norte, temos muito o que aprender ainda em termos de organização da sociedade de maneira igualitária e baseada no esforço e no mérito. Temos que aprender a repudiar o coronelismo e o populismo, e ser mais donos de nosso próprio destino. Temos que deixar de lado a auto-condescendência, a nostalgia e o fatalismo e olhar para o que pode e deve ser feito agora.
            Temos muitas coisas boas e muito potencial, mas o mundo está cobrando de todos uma postura ativa e corajosa agora. Para sobreviver teremos que nos reinventar, seja como Parazão ou Parazinho. Fragmentada ou não, a Amazônia está em uma encruzilhada. Belém vai completar 400 anos em breve, e temos que decidir se queremos comemorar esse aniversário de cabeça erguida, com bravura e confiança, ou se vamos continuar de cabeça baixa, dizendo amém aos Barbalhos e Maioranas da vida e sonhando com o que já passou.
            Eu vivo no presente, porque é o único tempo possível. É aqui e agora que dou meu sangue, meu suor e puxo toda a minha capacidade para ter uma vida mais digna, mais criativa e menos quadrada. Em que tempo vive o Pará? Em que tempo vive Belém? 
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sábado, 7 de maio de 2011

Mais uruguaio



Dizem que nasci e me criei no norte e que aprendi a ser homem no sul. Tudo bobagem: o que sou mesmo é uruguaio. Nada de carimbó nem de vanera: minha pátria é a murga, é o candombe, é a milonga. Quando as vozes todas da murga soam juntas, metálicas, ali é onde moro. Fui criado no Cuareim, forjado no Barrio Sur, destinado a caminhar tranqüilamente pela 18 de Julio em tardes elásticas. As vozes da murga são as vozes de cada humor meu, de cada gesto que já fiz ou que farei, de meu rosto estranho e cansado antes da meia noite. Minha cara pintada, meu cabelo mentiroso para agradar ao mercado de trabalho, meu tom, meu ritmo, minha sintaxe par-ti-cu-lar: bem uruguaio, improvavelmente azul e branco como as cores do Paysandú. Paralelo brasileiro: Minas Gerais, o mais próximo possível.
Meu texto hermético neste maio de 2011, meu texto para quem sabe ler: uruguaio até os cabelos escuros e a predileção por doce de leite.
Dizem que nasci no norte e que moro no sul do Brasil. Pouco sabem de mim. Mais saberiam se me vissem sentindo o que sinto quando os cinco compassos do candombe passam pelas ruas antigas da cidade aquela...
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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pronto para a luta


           
Meus inimigos esperam minha queda, tramam em surdina, torcem abertamente contra. Eu me concentro, aspiro o ar revigorante e gelado do sul da América do Sul. Sei que quando tentarem dar o golpe estarei tranqüilo, ouvindo - talvez até dançando -  o Baião Psicodélico, e tomando chá inglês. Sem arrogância, sem baixar a cabeça: pronto para a luta. 

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Finalmente, bom senso


Este blog comemora o grande avanço social que é a legalização da união homossexual no Brasil. Seguindo a pioneira Argentina, finalmente apresentamos decisões maduras e honestas, que esperamos se estendam a outras áreas. A igreja católica mais uma vez se mostrou retrógrada e em descompasso com a realidade ao se posicionar contra, mas a votação no supremo foi unânime. Parabéns aos ministros que votaram, parabéns a este país, que a passos lentos – mas importantes, vai avançando. E um ovo podre na cara do deputado Bolsonaro, que não perde uma oportunidade de falar besteira. 

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sábado, 30 de abril de 2011

Heróis e túmulos


Terceiro rascunho. Como escrever sobre Ernesto Sabato? O homem que me fez “aterrisar” na Argentina, que me fez ficar desconfiado sempre que passava pelo parque Lezama, olhando em cada banco para ver se Alejandra estava à espreita. O homem que me entortou a cabeça com a loucura metódica de El tunel, que nos guiou pelos labirintos áridos de Abbadón el exterminador, e que quase completou um século de existência. Morreu hoje, aos 99 aninhos, esse velho antipático, genial, polêmico, que soube mergulhar nas profundezas da história da Argentina e nos recantos soturnos da alma de seus personagens (o miolo de Sobre héroes y tumbas é talvez a peça literária não-dostoievskiana mais inquietante que já li), o velho anarquista com seus livros loucos e maravilhosos!
Adeus Sabato, o último sobrevivente dos quatro gigantes que formam meu cânone pessoal da literatura argentina – os outros, evidentemente, são Borges, Cortázar e Arlt. Adeus ao homem, porque a obra vai ficar por muito tempo fritando nossas cabeças acomodadas. 
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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pedaço de outono


No outono, lembro que um dia já escrevi poesia. Hoje apenas correria, trabalho, objetividade. Uma pequena incursão pelos reinos abstratos, em pleno 2011:

Pedaço de outono

Espaçamento de antílopes
Córrego gotículas diamantes
Esta, a marcha da alma no bosque
Pequenas mãos que dizem oi
A respiração lenta dos ursos brancos
Após o jantar, a mesa e o que sobrou
dos sorrisos e das fitas
A marcha dos dias sem calor
No sul da América do sul
Um retrato em movimento
Desta vida, deste pedaço de
outono


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mineiros e argentinos


 

Vou assistindo uma bela vitória do Cruzeiro sobre o Estudiantes de La Plata, que acontece em estádio bem danificado pelo show do U-2. Um de meus times brasileiros favoritos, o Cruzeiro vai muito bem nesta libertadores, e nos intervalos entre uma jogada e outra vou lembrando de um argentino que sempre escuto nesta época do ano: Luis Alberto Spinetta, um dos maiores poetas do rock porteño. Curiosamente, em vários momentos ele me parece ter um quê de mineiro na composições, na entonação, no jeitão. Desde a primeira música de sucesso do ex-grupo dele lá nos anos 60, o Almendra, ele já soava como a versão Argentina do 14 Bis (comparação que se pretende honrosa para ambos, por favor).
            A construção das melodias, as texturas, tudo se encaixaria bem na música mineira, não fosse o idioma espanhol e certas temáticas bastante argentinas. Lô Borges ou Milton Nascimento não fariam uma música para o atacante do River, mas talvez fizessem para o Cruzeiro ou o Atlético... Não sei se um mineiro desenvolveria um tema como “Durazno Sangrando”, mas dá para imaginar o Flávio Venturini mandando “Alma de Diamante” com toda a propriedade, ou o Spinetta cantando “Um girassol da cor do seu cabelo”

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Os novos sete pecados



Acabei de saber que a igreja católica adicionou sete pecados aos famosos sete que já existiam. Os novos seriam atualizações para o nosso tempo. Não gosto de entrar em discussões de religião, acho que cada um sabe de si e vários caminhos podem levar à verdade, mas como o catolicismo tem muita força em nosso país, vale à pena analisar os novos pecados e nos posicionar.
O primeiro tem a ver com experimentos com células tronco. Entendo que precisamos ter limites éticos na ciência, mas historicamente a igreja tem se mostrado em descompasso com o conhecimento científico, quando não brutalmente contra os avanços tecnológicos. A ciência pode ser arrogante e cega às vezes, mas ainda é bem mais realista e democrática que a igreja católica. Essas pesquisas condenadas podem vir a salvar muitas vidas e aliviar o sofrimento de muita gente. Vai dizer para alguém que ficou paraplégico que a esperança de cura dele é um pecado...
O segundo é o uso de drogas. Concordo que qualquer exagero contra o próprio corpo e a própria saúde é prejudicial, só acho que devemos ter cuidado para não sermos hipócritas condenando quem fuma maconha enquanto tomamos nosso álcool bem tranqüilos, só porque de modo arbitrário em nossa sociedade um é permitido e o outro não.
Outro novo pecado: poluição do meio ambiente, este finalmente um belo acerto. Outro: agravamento da injustiça social. Nosso mundo é muito injusto, e a igreja católica muito contribuiu para isso. Interessante postularem a injustiça social como um pecado hoje em dia, espero que não seja só discurso.
O próximo é riqueza excessiva, e não posso concordar com este. Se a pessoa trabalhou honestamente, foi competente ou teve sorte, e se não enriqueceu como nossos políticos, acho perfeitamente justo que usufrua disso, que gere emprego e riqueza, e que aproveite o que conquistou. Chega de coitadismo, do discurso do pobrezinho conformado. Precisamos de gente empreendedora e muito honesta neste país, e sim, as duas coisas devem vir juntas – riqueza e honestidade.
O outro pecado é a geração de pobreza, o que corrobora o anterior: se temos gente empreendedora, ficamos mais ricos. Se somos honestos e respeitamos o mérito de cada um, temos uma sociedade igualitária e justa.
Último pecado: controle da natalidade. Os séculos passam e a igreja católica não aprende a lidar com a sexualidade humana de maneira adulta e responsável. Preferem continuar infantilizando as pessoas e tapando o sol com a peneira. Este último pecado é um grande desserviço a todos os fiéis, e contraditório com o pecado de não gerar pobreza: sem controle da natalidade, mais um monte de gente pobre no mundo, mais problemas de gente rejeitada pelos pais, etc. Os protestantes são sensatos o suficiente para permitir o casamento dos pastores, o que já um grande avanço.
Estes são os novos pecados de uma instituição muito antiga, que tem muitos méritos e inegavelmente faz bem a muita gente, por isso merece ser respeitada. Mas não podemos concordar cegamente com tudo, é preciso pensar sempre, mesmo sobre coisas que têm mais a ver com fé do que com racionalidade, porque estes pecados são criados historicamente, e acreditar que são pecados influencia no comportamento que teremos em sociedade. 

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sábado, 9 de abril de 2011

Nosso amigo, o outono



Todo ano, em abril, eu escrevo sobre isso: como é bom quando as temperaturas começam a cair, e o ano começa a valer à pena. Todo ano em abril meus movimentos ficam mais dinâmicos, as dores de cabeça diminuem, a disposição aumenta. É o outono que chega, é o alívio do não-calor e dos dias mais belos do mundo, com essa luz incomparável que só existe fora das regiões tórridas.
Sei que nesta época muita gente sofre com problemas respiratórios, assim como eu sofro com dores de cabeça no calor. Entendo e me solidarizo com estas pessoas, mas não posso deixar de dizer o quanto me alivia o fato de haver a mudança de estações, e a possibilidade de recomeçar. 
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sexta-feira, 25 de março de 2011

Viva o coronel


Pois aí está, a lei da ficha limpa só vale para a próxima eleição. Questão de ordem, eles defendem. Não dá para fazer as coisas assim, na bagunça. A lei tem que ser só para o ano seguinte ao da eleição em questão. Que país sério e organizado que somos, quanto orgulho em saber que cumprimos as leis de modo tão aplicado. Que bom saber que Jader Barbalho vai representar o orgulho e a dignidade do sábio povo paraense e brasileiro no congresso, ele não é um fofo? Ah, eu se ainda morasse aí na Barbalholândia teria votado nele, não é? Vocês são umas graças. Um beijão para vocês, é assim mesmo que se sai do terceiro mundo, valorizando nossos queridos coronéis. 
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quarta-feira, 23 de março de 2011

Paixões



Times de futebol despertam interesse, curiosidade, temas para debates filosóficos. O que desperta paixão são as mulheres, as obras de arte e o conhecimento. 

sexta-feira, 18 de março de 2011

Mais gentileza


          
            Estava lendo sobre a tragédia no Japão, e me chamou a atenção o fato de que para cada notícia que abre comentários dos leitores há sempre gente xingando e ofendendo. Tudo o que acontece, tudo o que se faz é motivo de apedrejamento verbal. Se alguém quer ajudar as vítimas no Japão, vem alguém e ataca a pessoa porque ela não está ajudando a África. Se alguém defende os ciclistas atropelados em Porto Alegre, vai haver outra pessoa para defender o agressor, e assim por diante. A Internet é um campo aberto para a grosseria, as ofensas e os comentários superficiais.
            Aqui, vamos remar contra a corrente. Como já disse antes, estou cansado de gente que acha que ter atitude é falar o que vem à cabeça sem se importar com as conseqüências e com quem vai ser ofendido. Tudo bem, somos humanos, temos nossas preferências, eu já falei mal do sertanejo universitário, mas há limites. Ofender quem está ajudando as vítimas do Japão é além do limite. Agredir por agredir sem nem pensar antes é imaturo e só polui a Internet. A ofensa gratuita, que na vida real nos controlamos tanto para não cometer, na ponta dos dedos no teclado parece vir tão facilmente...
            Que ajudemos o Japão, sim. Que sigamos fazendo nossas coisas, sendo criativos, solidários e inovadores, e que os grosseiros inconseqüentes se intimidem, não nós. Gentileza gera gentileza. 

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quarta-feira, 9 de março de 2011

A grandeza de Porto Alegre



Mais uma vitória impressionante de um time que sempre surpreende: a conquista do primeiro turno do gauchão pelo Grêmio. O empate nos acréscimos, a garra e a capacidade de superação fizeram desta partida a melhor do ano até agora.
            Quanto ao Caxias, o time e a cidade, um detalhe: o único jogador que conseguiu marcar gol nas cobranças de pênalti deles era negro. Altivo, elegante, o único que se livrou do vexame. Lembro que quando visitei Caxias com um amigo aqui de Porto Alegre, ele estranhou sermos tão mal recebidos. Ninguém nos dava nem informação na rua! Nosso problema? Na época eu era cabeludo, e ele era e sempre será negro. Simplesmente. Um membro de uma das raças que tanto contribuiu e contribui para o que nosso país tem de melhor em tantas áreas, esnobado por lá por um detalhe desses.
O que desejo para Caxias é: que os seus melhores jogadores tenham a pele negra, reluzente, bela, épica. E que vocês um dia aprendam a lidar com isso, não só no futebol. Porto Alegre e o Grêmio (o Inter também) são grandes porque comportam gente de todos os jeitos, de todas as origens. Absorvem o que temos de melhor e nos ajudam a tornar o Rio Grande ainda maior. Porto Alegre é uma grande metrópole do Brasil e do mundo. Outras cidades que queiram esse posto têm de estar preparadas para a complexidade e a diversidade, ou então vão continuar sempre sendo provincianas e pequenas. 
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terça-feira, 8 de março de 2011

Quem inventou a natureza?


           Muita gente critica o homossexualismo por ser “anti-natural”. O que essas pessoas dizem, então, do fato de que em quase todas as espécies de animais ele existe, e não só quando há escassez de parceiros de outro sexo? Os animais, como os humanos, fazem isso porque gostam. Se existe com tanta freqüência na natureza, por que é anti-natural? 
A idéia de algo “natural” muitas vezes existe para justificar ações que são convenientes para determinados setores da sociedade e manter o status quo. Quem tem a autoridade de dizer o que é natural e o que não é? A quem foi dado o poder de legislar sobre, em última instância, o que é certo e errado? Será natural que as meninas gostem de rosa e queiram se vestir de princesas? E que os meninos gostem de carros e futebol? A natureza nos fez assim, ou só estamos mais uma vez tomando como natural algo que foi criado historicamente?
            Leiam este texto esclarecedor da revista Superinteressante sobre o tema. 
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quarta-feira, 2 de março de 2011

Sobre o funk carioca



Vamos lá, aproveitando o final das férias para mexer em casa de caba (“vespeiro” para os gaúchos), vou falar de funk carioca. Sim, ele mesmo, com suas popozudas e tchutchucas. Não vou malhar nem babar ovo, vou pensar a respeito.
O ritmo (ritmo mesmo, a batida, não o que o senso comum chama à melodia) é forte, e ouso dizer que é cativante. O funk tem um significado social bem claro também: é música de periferia que chegou à classe média, com todas as contradições possíveis. Eu, que sou emblemático em contradições, posso falar a respeito, já que venho da periferia mas sempre fui do rock, do cinema e da literatura.
Se o ritmo é forte, não se pode dizer o mesmo da parte instrumental. Não há arranjos sofisticados, é um som cru, sem refinamentos. As letras são agressivas, por vezes debochadas, chocantes. Algumas inclusive incitam ao crime e estão associadas a facções criminosas, que é o chamado “proibidão”. Há também demasiada repetição dos refrões para o meu gosto, o que deixa o ritmo meio monótono. A sexualidade é tratada de maneira explícita, sem rodeios nem metáforas: “cala a boca, não te espanta, eu vou gozar na tua garganta” que além de grosseira, é bem degradante para as mulheres - ou eu estou sendo ingênuo e perdendo algo da malandragem que faz com que muitas mulheres gostem e se identifiquem com esse tipo de letra.
Pensando bem, descubro que não gosto de letras com esse nível de grosseria, ainda acho que com sutileza se consegue mais impacto - tanto que os funks que consegui gostar são os mais light, como “se ela dança, eu danço” ou alguns do Claudinho e Buchecha. Para quem já foi punk na adolescência, é engraçado escrever essas coisas, mas o fato é que frases como “bate na palma da mão, balançando o popozão” estão tão longe da minha subjetividade quanto Chopin estava dos Sex Pistols. E eu não conseguiria me referir a uma mulher como “cachorra” com o tom de malandragem deles, é muito fora da minha realidade. Não é moralismo, é só uma subjetividade diferente. O funk americano me atinge bem mais, afinal é dele que vem o mestre James Brown, só que aí já é outro contexto.
Mas enfim, com um pouco mais de trabalho harmônico e umas letras menos rudes, daria para encarar. 
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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Adeus Moacyr Scliar e Benedito Nunes



Domingo triste para o Pará e o Rio Grande do Sul: no mesmo dia perdemos Moacyr Scliar e Bendito Nunes.
Scliar eu lia desde adolescente, quando caiu em minhas mãos um exemplar de A balada do falso messias. Aqueles contos estranhos, aquela atmosfera quase surreal me cativaram logo, e nestes últimos vinte anos outros tantos livros do grande médico porto alegrense me fascinaram: O exército de um homem só, A guerra no Bonfim, A festa no castelo, A orelha de Van Gogh... De nosso mestre Benedito Nunes ficam suas profundas lições de filosofia e literatura – um dos poucos brasileiros que explicava Heidegger, um dos que iluminaram nossas leituras de Clarice Lispector.
            Tristeza de norte a sul, e o consolo de que em algum lugar além de nossa compreensão estas duas figuras geniais estão travando um diálogo daqueles, com a marca da cordialidade e da sabedoria que tanto os caracterizaram. 

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Bate-boca amazônico

O que tenho a dizer sobre o bate-boca entre o Pará e o Amazonas é que Milton Hatoum é um tremendo escritor, que o Papão ganhou do Peñarol de Manaus lá dentro, e que todos tomamos tacacá e comemos cupuaçu, além de compartilharmos o mesmo rio, que é nossa grande estrada. 
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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Gostos e respeitos

Sempre me questiono sobre o valor estético, o quanto ele é subjetivo e difícil de ser definido objetivamente. No post anterior expliquei que como o trabalho com a letra é muito importante segundo meus critérios musicais, os estilos que não privilegiam isso, para mim, são mais fracos. Por isso, o sertanejo universitário é esteticamente desprivilegiado em minha opinião. Isso não faz de mim nem melhor nem pior que ninguém, é só minha opinião, baseada em meus critérios. Outras pessoas podem dizer que letra é algo secundário, o que importa é o “ritmo” cativante e tudo bem, sejam felizes, mas meus critérios são bem claros: temos uma língua belíssima e muito rica, então vamos usá-la.Canção é letra e música, se desprezarmos um dos elementos, ela fica prejudicada.
Todos os estilos musicais podem conviver muito bem, sem ataques nem grosserias, se respeitarmos um princípio básico: não obrigar o vizinho a ouvir o que ele não quer, especialmente nos horários de silêncio. Mas escrever sobre o porquê de não gostarmos de um estilo específico acho válido como tentativa de compreensão dos critérios alheios, e talvez até como chance de ser questionado e entender o outro lado.
Agora vou encerrar e ouvir o fio de cabelo comprido, que já esteve grudado em nosso suor...
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domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Universitário" com muitas aspas

            É comum ter uma certa resistência ao escutarmos algo diferente, algo que quebra nossas expectativas. Precisamos de tempo para nos acostumar. Jazz, música clássica, certos tipos de rock, há muitos estilos que não são assimiláveis à primeira audição. Mas o que dizer do que causa repugnância pelo contrário, por ser monotonamente igual? É o caso do sertanejo “universitário” - As aspas vão porque não se consegue explicar exatamente o que há de universitário na coisa.
            Musicalmente é o sertanejo de sempre com uma roupagem pop, harmonias óbvias, refrões fáceis, tudo muito sem stress, visando claramente o sucesso comercial. As letras, sempre as letras, o que fazer. Para mim letra é parte essencial da canção, e sim, é muito importante ser criativo nas letras. Há quem discorde, mas eu sou viciado em palavras, adoro letras bem construídas. Então, não há como gostar dessa nova geração de sertanejo, nem entender porque diabos eles são “universitários” (e as aspas vão sempre). Paixão rimando com coração, festa rimando com diversão. E só. Os dois únicos temas que 90% da música popular consegue abordar, sempre de maneira burocrática e preguiçosa.
            Bem pouco, não é? Para a tradição da canção brasileira, bem pouco. Temos um século de canção popular, centenas de obras primas, dezenas de compositores geniais, e vamos abrir mão de tudo isso para ficar com esses caras? Que se dane Chico, esqueçamos Cartola, ao diabo com Renato Russo e Chico Science, quem quer saber de Noel Rosa e Cadão Volpato. Coração e paixão, viva a festa, é só o que conseguimos articular. E assim gaguejando, satisfeitos com tão pouco, vamos levando este país para a frente. Quem deixou essa geração passar no vestibular da música brasileira?



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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Itamar propõe voto de adultos


Finalmente um político tem a coragem de propor o fim do voto obrigatório. E é ele, quem diria, Itamar Franco. Tomara que passe, e que a próxima medida seja a redução drástica do número de deputados e senadores no congresso, assim como redução do salário deles. São centenas de sanguessugas mamando em nossos impostos, uma grande vergonha para um país que acha que está se tornando primeiro mundo. Estamos um pouco melhores, mas ainda muito, muito longe de ter uma democracia decente. Ainda estamos discutindo o básico do básico, que é a obrigatoriedade do voto. Nunca pensei que diria isso, mas desta vez Estamos com Itamar Franco!



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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Candombe

Aí estou eu, feliz e desajeitado, batucando o “Candombe del mucho palo” dos Olimareños. (o segundo da esquerda para a direita)



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Passo

Da série "Alanismo também é poesia":

Eu andei em todas as aves, corri sobre lençóis
Escorreguei roliço na camada entre os olhos e o franzir do cenho
No centro do salão de baile
Fiquei imóvel e silencioso
Na multidão da Rua da Praia
Agi como cachorro assustado, gritei por nada
Quem me julgou agora atira dinheiro pela janela
Quem me acolheu ajeita as flores no vaso branco
Eu finjo que me importo: com isso e aquilo
Finjo esquecer o que dizem sempre
E fingindo, se cresce e se civiliza
Passo por branco e por sério
Mas a floresta em mim sorri, e vou à caça
Porque tudo é caça neste tempo
Quase tudo
Passo por isso e por aquilo
Porque passar é o que se faz
E elaboro receitas novas para as festas de poucos convidados

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Novo blog em inglês

            Meus caros, novidades: O Guamundo está se expandindo. A partir deste mês estou desenvolvendo um blog em inglês chamado “The Wanderings of Curupira”, no qual sigo mais ou menos a linha deste aqui, só que com os olhos ainda mais voltados ao mundo. Lá eu não explico o nome, mas aqui entre nós digo que é uma referência ao belo poema “The wanderings of Oisin” de W. B. Yeats, com nosso toque amazônico. Vamos para o mundo, mas ficamos aqui em Belém e Porto Alegre, sobrevivendo a este verão. See you all there. http://wandercurupira.blogspot.com/

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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A Seleção Uruguaia



Ter de um país inteiro a impressão superficial e alienante do futebol é uma grande limitação. Aqui neste blog estou montando minha seleção uruguaia, na qual não há jogadores. Há gente brilhante que ajudou a transformar este pequeno país em uma potência cultural em nosso continente. Sentem-se, tomem um mate, sintam o cheiro de uma bela parrillada e fiquem à vontade.
            No gol, defendendo todas, está Alfredo Zitarrosa, o maior cantor de milongas do mundo. Na zaga, sólida e barulhenta, tocam Pepe Guerra e Braulio Lopez, brilhantemente auxiliados por Daniel Viglietti. Um defesaço. Fazendo a ponte entre eles e o meio de campo vai o charme e a bela voz de Ana Prada.
            Meio de campo: Mario Benedetti, Eduardo Galeano, Juan Carlos Onetti. Quem já leu alguma coisa desse trio da pesada sabe do que estou falando.
            Ao ataque: Jorge Drexler, Jaime Roos e o artilheiro Ruben Rada, o rei do candombe. Nosso goleiro Machado de Assis vai ter problemas com esse ataque. Encerro com um significativo poema de Mario Benedetti chamado “A Ponte”, porque estou farto das falsas divisões e rivalidades banais do futebol. Quero mais pontes, quero mais mundo.
EL PUENTE
Para cruzarlo o para no cruzarlo
ahí está el puente
 en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país 
traigo conmigo ofrendas desusadas
entre ellas un paraguas de ombligo de madera
un libro con los pánicos en blanco
y una guitarra que no sé abrazar
 vengo con las mejillas del insomnio
los pañuelos del mar y de las paces
Ias tímidas pancartas del dolor
las liturgias del beso y de la sombra
 nunca he traído tantas cosas
nunca he venido con tan poco
 ahí esta el puente
para cruzarlo o para no cruzarlo
yo lo voy a cruzar
sin prevenciones
 en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país

                   (De Preguntas al azar – 1984-1985)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Festa uruguaia em Porto Alegre


Hoje em dia não temos uma banda dessa envergadura no Brasil. Com essa qualidade de música e letra, com um estilo próprio, desenvolvido ao longo de anos, com essa pegada. Estou falando dos uruguaios do Cuarteto de Nos, que após uma sólida carreira de quase três décadas e 12 discos lançados, tocaram pela primeira vez no Brasil ontem. Porto Alegre teve o privilégio de os receber, e nós de estar na platéia.
            A abertura dos Cartolas foi muito boa, mas a noite era do Cuarteto. Com a garra e a entrega comuns às bandas uruguaias e argentinas, eles já entraram “jogando em casa”: o público sabia todas, eu disse TODAS as letras, e berrava junto enlouquecido, com destaque para as clássicas da banda, e as do disco que os lançou internacionalmente em 2006, “Raro”. Bendita seja a internet, que nos permite ter acesso a esse tipo de coisa.
O espanhol, definitivamente, não é língua estrangeira, e Montevideo é mais uma capital brasileira. A ironia ácida das letras, a inteligência e a sutileza foram muito bem captadas pelo público de alto nível que compareceu ao show. A empatia com a brava nação uruguaia era evidente. Deu orgulho de morar nesta cidade, e sentir que nem só de porcaria vive o rock atual. O Cuarteto não é só a melhor banda de rock em atividade no Uruguai, é uma das melhores da América latina. Quem perdeu o show, dê um jeito de ouvir os caras com urgência. Podem começar por aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=y9LlnLTH87U
http://www.youtube.com/watch?v=rBJrvBxNHnc

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Astrologia é racismo


            
Os astrólogos estão confusos com a possibilidade de inclusão de um novo signo no zodíaco. Tudo mudaria, todas as certezas seriam abaladas. Quem era leão viraria touro, quem era peixes agora seria áries.
            Podemos aproveitar esse momento para refletir o quanto a astrologia é uma viagem, sem fundamento científico algum, e potencialmente perigosa. Um emaranhado de generalidades completamente arbitrárias que levam a supostas conclusões sobre a personalidade das pessoas de acordo com a posição dos astros no momento do nascimento. É divertido? Para alguns, pode ser. Mas na prática, quem leva a  astrologia a sério está agindo exatamente da mesma forma que os racistas e homofóbicos. Se do mero fato de que alguém nasceu em um signo podemos tirar conclusões a priori sobre as atitudes dessa pessoa, isso é o mesmo que dizer que alguém é assim ou assado porque é negro, porque é gay, porque é de tal e tal lugar.
            Enquanto passatempo de criança, a astrologia é engraçadinha. Mais que isso, é melhor acender o sinal de alerta, ou podemos ser atropelados por uma lua em capricórnio, uma estrela cadente em sagitário ou um sol em libra. 


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Vamos acodar, emergentes!



Neste país, uma das atitudes mais criticadas parece ser a de “posar de intelectual”. Dizer que não gosta de novela nem de big brother, que não ouve funk nem sertanejo, tudo isso pega muito mal: “metido a intelectual”, apontam o dedo na cara de quem ousar contradizer o gosto da maioria.
Acho que está na hora de sermos menos condescendentes com o senso comum. Não é vergonha nem pose forçada querer qualidade, querer sofisticação, querer lidar com produtos elaborados por gente que realmente domina o que faz. Se fazemos tanta questão de consumir produtos de qualidade em outras áreas, notadamente nos objetos, acessórios, roupas, o que nos impede de ser exigentes em relação aos produtos artísticos e midiáticos que consumimos?
            Se quero sapatos, computadores e celulares de qualidade, também quero livros, filmes, programas de TV e música de primeira. Se vou comprar um belo carro importado, no meu som vai rolar Beethoven, não vai ter sertanejo. Se meus óculos são caríssimos, é com eles que vou ver filmes e programas que não me tratem como idiota.
Nós, brasileiros, frequentemente nos contentamos com pouco em termos culturais. Agora que chegamos à classe C, que temos mais poder de consumo, está na hora de nos posicionarmos à altura. De começarmos do mais básico: perder o medo dos livros, pensar se realmente queremos ouvir exclusivamente músicas simplórias falando de amor e de festas, arriscar ver filmes um pouquinho mais elaborados. Não adianta chegar a um certo poder aquisitivo se nossos hábitos, nossa mentalidade e nossa (falta de) ética continuam lá em baixo.
Emergentes e vindos do subúrbio, sim, não temos como negar nossas origens. Ficar acomodados na mediocridade, jamais. 


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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Novas Atividades


Caros leitores, andei algum tempo ausente cuidando de assuntos familiares e me dedicando à minha nova atividade como tradutor juramentado e intérprete comercial nomeado pela Junta Comercial do estado do Rio Grande do Sul (essa imagem do post é o meu logo). Estou divulgando meu trabalho neste blog aqui http://juramentadars.blogspot.com/,
caso precisem ou saibam quem precisa, é só entrar em contato.
Que tenhamos todos um grande 2011, com muito dinheiro, saúde, idéias, amor, música e paciência.


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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O futebol é nosso



Os foguetes estouram em Porto Alegre, as buzinas gritam loucamente: o Inter foi eliminado precocemente do mundial. Eu, que aqui torço pelo Grêmio, no entanto, não consigo ficar alegre. Eu, que desde criança nunca entendi nem senti as rivalidades regionais, fico perplexo e até um pouco triste.
Em Belém torcia pelo Paysandú, mas nada tinha na verdade contra o Remo, sempre torcia por eles em jogos contra times de outros estados. Eu não sei ficar alegre com o sofrimento alheio, portanto não sirvo para o futebol. Sou um torcedor de segunda categoria, que não entende bem as regras de atuação e de sentimento.
Sou professor, e enquanto o Inter vai jogando os alunos vão fazendo a prova final. O olhar de decepção e tristeza no rosto de um dos guris sintetiza tudo. Como ficar alegre com isso?
Minha maneira de gostar de futebol é estranha, foge dos padrões, mas eu sempre fui meio estranho e fora dos padrões, então tudo bem.
Só escrevo essas coisas para que outras pessoas que também não se encaixam na maneira dicotômica e maniqueísta corrente de se relacionar com o futebol saibam que não estão sozinhas. Podemos criar a relação que quisermos com tudo, podemos buzinar eufóricos, chorar de frustração, olhar com o canto do olho, ou ler uma partida como uma grande aula de filosofia. 


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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Natal para adultos II




Mais sobre Natal e magia: esqueci de dizer no post anterior que ao invés de ficar esperando que a magia aconteça, nós podemos arregaçar as mangas e criá-la. Ao invés de ficar esperando que nos façam felizes, podemos olhar ao redor e levar um pouco de sorriso e de felicidade às pessoas próximas. Não gosto do tom de auto-ajuda, mas sendo realista, a melhor maneira de não ficar triste é saindo do nosso próprio umbigo e prestando atenção aos pequenos e grandes desejos de quem está ao nosso lado. 



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