quarta-feira, 12 de março de 2008

Muitos Centros I

Até o século XIX a Europa era, no imaginário nosso, o centro do mundo. De lá a cultura e a civilização irradiavam para as periferias, e faria parte da elite intelectual quem conseguisse estar mais atualizado com as novas tendências. Este centro sofreu um pequeno deslocamento após a segunda guerra mundial: Os Estados Unidos juntaram-se a estes centros de irradiação, especialmente no campo político-econômico e na cultura de massas. Os intelectuais ainda eram europeus, mas o coração das multidões pertencia ao colosso do outro lado do Atlântico.
A partir dos anos 70, no entanto, especialmente após a publicação de Orientalismo de Edward Said, as teorias pós-colonialistas colocaram em cheque a centralidade do auto-denominado mundo ocidental. Embora tenha recebido muitas críticas por forçar a barra em um tipo de anti-ocidentalismo, Said foi importante para quebrar paradigmas e lançar novas questões, um novo olhar sobre as relações entre as culturas do mundo. Em grande parte devido a estes questionamentos é que a discussão sobre identidade é tão pertinente hoje em dia. Se África, Ásia e América Latina continuam em alto grau ainda dependentes econômica e intelectualmente do mundo ocidental, há também um forte movimento contrário, que coloca estes imensos pedaços do mundo participando de maneira mais ativa nas decisões globais.
A América Latina, essa grande e rica periferia do ocidente, tem conquistado seu espaço aos poucos e de maneira nada tranqüila. Já somos uma voz considerável dentro da potencia do norte, e temos uma penetração na mídia mundial que nos coloca de maneira menos estereotipada do que acontecia há algumas décadas. No entanto, ainda há muito a ser feito, e por isso o Alanismo vem dar sua colaboração para este debate. Ei-la:
Primeiro postulado: não existem apenas dois mundos chamados ocidente e não-ocidente. Existem vários mundos, divididos em grandes ciclos culturais. Nós pertencemos ao grande ciclo latino-americano (embora muita gente não goste deste nome porque ele colocaria em segundo plano a diversidade das culturas autóctenes dentro da região). As semelhanças históricas e culturais com nossos vizinhos são suficientes para nos incluir no conjunto de povos que foram colonizados pela península ibérica, tiveram seus nativos saqueados, dizimados ou escravizados, e receberam um considerável influxo de mão-de-obra escrava da África, que ajudou a moldar sua identidade. Outros grandes ciclos culturais são o mundo árabe, a Europa, as várias Ásias e Áfricas, com toda a complexidade e variedade interna de cada ciclo.
Continua...

2 comentários:

Unknown disse...

bem jeitosinha que ficou a página, hein? Gostei bastante do título, muito pertinente...rs.
essa semana estou perdida em afobação pela primeira aula que vou dar pra graduação de psicologia (prática de ensino do mestrado), depois que essa maratona ansiogênica acabar, vou vir com mais frequência por aqui =D
abraço calorento

Anônimo disse...

Boa leitura na internet: mais uma das proposta do Alanismo. Parabéns e vida longa ao blog. Marcos