quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Adeus, Belém do Pará


Belém, nossa querida Belém. Hora de dizer adeus. Hora de acertar algumas contas. Primeira conclusão: a relação orgânica que meu corpo tinha com a cidade já não existe, evaporou-se em algum inverno sulista. Meu organismo já não pertence ao meio da urbanidade amazônica, já é um corpo estranho. Assustador ou libertador, é o que está acontecendo.
Os amigos, as pessoas queridas sim, continuam sempre aqui dentro, desnecessário citar exemplos. Mas a cidade, essa cidade, já não é minha. Isso o que ficou desta vez. A cidade descolou do meu corpo. As pessoas não. A cidade, bela sempre, insuportável sempre, se afasta e segue sua vida, como uma antiga amante de quem guardamos remotas lembranças.
São muitos anos. São muitas vidas. Muita distância. Belém é um ônibus que passa direto quando fazemos sinal, que nos ignora quando mais precisamos. Assim: Levantar o braço, pois o ônibus se aproxima. O motorista nos vê, e decide não parar. Apenas porque ele está no comando, por um simples capricho. Isso é Belém. Isso é Pará. Um ônibus que recusou nos levar. Esse é o limite, a linha de corte. Eu não quero fazer sinal para esse ônibus. Isso é Belém. Isso é Pará. Um ônibus que nos esnoba e nos afronta em nosso momento mais frágil, quando o calor nos derrete a alma ou quando a noite nos ameaça em lugares estranhos.
Desta vez algo se rompeu. Esta vez não foi como as outras.
Mas as pessoas, as relações que tenho com as pessoas, estas continuam mais vivas e sólidas que nunca.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo post. Talvez o melhor texto que você já escreveu no blog.

Abração.

Anônimo disse...

Se Belém é um ônibus que decide não parar, então, ela é o Sacramenta-Nazaré.
Sempre suspeitei disso.