terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Cultura pop


I
A cultura pop nos envolve, nos cerca, nos contém. Mas, como qualquer produto humano, ela não é monolítica nem tem apenas um significado. Não é totalmente maravilhosa nem totalmente alienante. Assim como o futebol, a cultura pop é ao mesmo tempo sublime e banal.
Tomemos os anos 2000. O rock, um dos grandes ícones da cultura pop, esvaziou, emburreceu. Perdeu conteúdo, ganhou pose artificial e deixou o lado brega tomar conta. O fenômeno emo ajudou a banalizar e tornar ridícula uma das manifestações mais viscerais do século passado. Grandes bandas ainda há, claro, mas a penetração delas no imaginário popular ficou limitada. Um ponto a menos para o pop.
A mídia pop deixou de ser totalmente comandado pelos EUA. O Japão chegou arrebentando com seus desenhos de olhos grandes e sua cultura anime e Cia. Isso é interessante, ajuda a criar outros eixos de produção do imaginário pop. Não conheço muito esse mundo, mas percebo a importância histórica. Tomara que outro países e continentes apareçam também. Um a um.
A internet ajudou a deixar o mundo definitivamente mais conectado. Ninguém precisa mais comprar CD’s nem DVD’s, nem depender da boa vontade das distribuidoras nacionais. Isso vale dois pontos.
Uma cosia chata do pop atual: marcha de zumbis, filmes trash, essas coisas todas infantilóides e monótonas. Menos um ponto. Por enquanto: 3 a 2 para o pop.

II
A música brasileira que circula na grande mídia continua a idiotice de sempre, com a eterna desculpa de que “é só pra dançar, não é pra ouvir”. Dançando, dançando, a gente vai afundando com funk carioca, sertanojo e porcarias do gênero. Menos um ponto. Em cidades como Belém, onde as pessoas não têm a opção de não ouvir, isto se torna particularmente dramático.
Em Porto Alegre é fácil, raramente se é obrigado a ouvir o que não se quer. Há a possibilidade do silêncio. Em Belém, só resta o sofrimento deste pobre, heróico e sofrido povo cabano. Talvez isto faça toda a diferença: a possibilidade de escolher quando e como vamos estar expostos à cultura pop, de lidar com esses elementos todos do nosso jeito, na hora em que quisermos. Não há porque sentir ódio por uma coisa que não somos obrigados a ouvir diariamente, em horários absurdos.

III
Se a cultura erudita sofre com a ditadura da sisudez, o perigo que sempre ronda o pop é a banalidade irreversível. A ditadura da diversão, do efêmero, do engraçadinho. Eu, que para os sisudos sou banal, e para os banais sou sisudo, me resguardo o direito de aproveitar o melhor de todos os mundos. Riso e diversão sim, mas profundidade também que nóis não semos retardados.

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