quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Diferentes Arrogâncias II


Engraçado os gaúchos reclamarem de uma coisa que é tão forte, inclusive aqui: a pele escura. O Rio Grande é um estado lindamente mestiço, cheio de gente de todas as cores pelas ruas, com essa diversidade que os tornou um povo tão bonito física e espiritualmente. Só que muitos preferem não ver isso, preferem fingir que os outros são os mestiços e aqui estão os “puros”. Preferem ignorar toda a beleza e a alegria que a presença dos negros e dos índios traz. Como diz Vítor Ramil: “Que triste foi a escravidão, mas que triste um povo que não tem negros”.

Quanto à tão propagada preguiça dos outros, devo dizer que aqui conheci e convivo com tanta gente preguiçosa quanto convivi em qualquer outro lugar do país. Gente legal, gente idiota, gente passional, enfim, todos os tipos humanos que se encontra em qualquer capital brasileira. Nem mais, nem menos, apenas a necessidade deles de se afirmar como trabalhadores, que é como eles concebem que seja o ocidental. Coisa da colonização provinciana que receberam dos alemães e italianos, assunto já tratado aqui.

Por último, a questão da aparência. São mais bonitos e mais vaidosos que os outros brasileiros, isso é inegável. Muito por causa da mestiçagem e da raça negra, que eles tanto esculhambam. O fato é que aprendi muito sobre cuidar da aparência por aqui, e tento me adaptar. A aparência é um valor forte, e ir contra isso em terra alheia não seria sensato. Diferente do racismo e do “trabalho”, que questiono veementemente, em relação ao quesito aparência eu humildemente sigo as convenções, observo e aprendo. É que o racismo e a calúnia insensata são degradantes para o ser humano, e cuidar da própria aparência (desde que isso não seja usado para diminuir os outros) não.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse meu amigo... um eterno estrangeiro nos pampas.

Anônimo disse...

Lembrei da reportagem em que meninas porto-alegrense que costumavam frequentar a calçada da fama gostavam de ir à cidade baixa porque não precisavam se preocupar tanto com o que vestir. Mesmo elas sentem-se pressionadas com a questão da aparência e participam de apenas um dos 'n' cenários

Essa questão colocada no post extravasa um dilema alanistico expresso no binômio arrogância x aceitação.

Penso que principalmente no sul exista esse problema da aceitação somente pela cor, pelo capital material ou pela beleza financeira.

É verdade, sim, que muitos gaúchos e gaúchas amam ostentação e não gostam do diferente. Nem mesmo o fato de viajar e conhecer outras variáveis culturais (e geneticas) faz certa parte do povo sair do pedestal.

Mas muitos não são todos.

E se há racistas brancos, há racistas negros, amarelos, azuis e cor-de-burro-quando-foge.

O racista é, antes de tudo, multicolorido e translocal: o que há em comum é não ver a beleza além do próprio umbigo.

Mas esse camaleão está distribuído de maneira não-uniforme. Além disso, se o que foi dito provém de uma experiência cotidiana, seria interessante comentar a quais extratos da sociedade gaúcha o post se refere, bem como loalização geográfica.

Se falarmos apenas de POA, poderiamos citar muitas cidades dentro dela. Se falarmos do Rio Grande do Sul como um todo, está na hora de tentar ampliar a percepção das sub-regiões, das populações e culturas fendidas e presentes.

Que povo é esse do qual estás falando? Gente do cotidiano alanistico ou para além... de belém do pará.

Abração e saudades do amigo.