quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Diferentes Arrogâncias


I

Gosto muito do Rio Grande do Sul e da Argentina. Me identifico com muitos aspectos da cultura dos Pampas e admiro sobretudo que aqui haja artistas do calibre de um Vítor Ramil ou de um Spinetta. Por isso me permito fazer algumas críticas, do ponto de vista de quem vem de fora, mas já conhece a região o suficiente para essas coisas.

São duas terras arrogantes, é evidente, mas de arrogâncias diferentes. A arrogância Argentina tem em comum com a gaúcha a questão racial, e o fato de se acharem mais próximos do mundo ocidental que os “brasileiros”. Aí começam as diferenças. “Ocidental” para um argentino tem a ver com cultura e civilização, com pensamento, com um projeto de sociedade calcado em valores humanistas. Para um gaúcho os valores ocidentais passam pela dicotomia trabalho x preguiça, na qual eles imaginam representar o primeiro elemento, deixando aos demais brasileiros o desonroso segundo. Além disso, enfatizam o cuidado com a aparência, em detrimento do desleixo e do espontaneismo predominantes nos outros estados.

Para um argentino médio o brasileiro é bem-humorado (no sentido positivo da coisa), tem a pele escura, é um tanto inculto e – surpresa – próspero e trabalhador. A dicotomia trabalho x preguiça não faz parte do imaginário deles, que adoram conversas filosóficas e literárias nos cafés de Buenos Aires, deixando o tempo ter seu próprio tempo. Uma arrogância densa, introspectiva, intensa e discreta, passional e melancólica como a música deles.

Já para o gaúcho médio o brasileiro tem a pele escura, é feio, preguiçoso e desleixado. Já se vê que não andamos em alta por aqui. Mas há um elemento que equilibra o tipo de arrogância gaúcha: o bom humor. São muito bem humorados, como qualquer brasileiro, o que confere à arrogância deles um caráter não tão ríspido. Também são, paradoxalmente, muito receptivos e hospitaleiros com os forasteiros. Algo como “Não é porque eu te acho inferior que eu vou te tratar mal, tchê”. Uma arrogância extrovertida e simpática, enfim, e para quem é do mundo do rock como eu, uma vantagem adicional: aqui o rock é mais presente, mais visceral, mais entranhado no modo de ser das pessoas do que no resto do país. Isso sim uma vantagem, não essa balela provinciana de “gente trabalhadora, gente preguiçosa”.

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