quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Para não esquecer

Se eu hesitar em uma esquina de Buenos Aires

Tentando segurar as lembranças nas mãos

Pacotes mal amarrados

Trens em velocidade zero onde já não entro

Se o vento frio do rio de leite me segurar a manga

A manga, que engraçado a mesma e diferente manga

Será possível, será dormindo

Será contigo em uma foto com os pezinhos para cima

Se eu tomar um choque em plena Avenida de Mayo

Em frente ao London, discutindo prêmios

Será apenas a tua mão que me atingiu, que me envolveu

Que me devolveu ao centro e me trouxe a outro bairro

E se for enfim um tango em Porto Alegre

Será Porto Alegre, então, será preciso

Será desperto

Será tranqüilo

Um comentário:

Renato Torres disse...

alan,

se estiveres, uma vez mais, pelo mundo
oculto em tua íntima ascendência
os pés escuros sob a lustrosa tez dos sapatos
e teus atos forem polidos, como querem as convenções
e no céu hajam nuvens de chumbo que te lembram vagamente a tempestade vindoura
aquela que acompanhavas segurando-a pela mão, até a beira do rio
o velho Guamá, de pulmões entupidos de lixo
se ouvires o bicho das entranhas, das brenhas, do monturo cadavérico das queimadas
e o fumo dos automóveis te fazer pensar na fome do mundo
conta mais uma vez dos inventos
e da velha calma do louco quando disseres nada.

abraços e saudades desde o norte,

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