quarta-feira, 2 de março de 2011

Sobre o funk carioca



Vamos lá, aproveitando o final das férias para mexer em casa de caba (“vespeiro” para os gaúchos), vou falar de funk carioca. Sim, ele mesmo, com suas popozudas e tchutchucas. Não vou malhar nem babar ovo, vou pensar a respeito.
O ritmo (ritmo mesmo, a batida, não o que o senso comum chama à melodia) é forte, e ouso dizer que é cativante. O funk tem um significado social bem claro também: é música de periferia que chegou à classe média, com todas as contradições possíveis. Eu, que sou emblemático em contradições, posso falar a respeito, já que venho da periferia mas sempre fui do rock, do cinema e da literatura.
Se o ritmo é forte, não se pode dizer o mesmo da parte instrumental. Não há arranjos sofisticados, é um som cru, sem refinamentos. As letras são agressivas, por vezes debochadas, chocantes. Algumas inclusive incitam ao crime e estão associadas a facções criminosas, que é o chamado “proibidão”. Há também demasiada repetição dos refrões para o meu gosto, o que deixa o ritmo meio monótono. A sexualidade é tratada de maneira explícita, sem rodeios nem metáforas: “cala a boca, não te espanta, eu vou gozar na tua garganta” que além de grosseira, é bem degradante para as mulheres - ou eu estou sendo ingênuo e perdendo algo da malandragem que faz com que muitas mulheres gostem e se identifiquem com esse tipo de letra.
Pensando bem, descubro que não gosto de letras com esse nível de grosseria, ainda acho que com sutileza se consegue mais impacto - tanto que os funks que consegui gostar são os mais light, como “se ela dança, eu danço” ou alguns do Claudinho e Buchecha. Para quem já foi punk na adolescência, é engraçado escrever essas coisas, mas o fato é que frases como “bate na palma da mão, balançando o popozão” estão tão longe da minha subjetividade quanto Chopin estava dos Sex Pistols. E eu não conseguiria me referir a uma mulher como “cachorra” com o tom de malandragem deles, é muito fora da minha realidade. Não é moralismo, é só uma subjetividade diferente. O funk americano me atinge bem mais, afinal é dele que vem o mestre James Brown, só que aí já é outro contexto.
Mas enfim, com um pouco mais de trabalho harmônico e umas letras menos rudes, daria para encarar. 
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Um comentário:

Marcus Pessoa disse...

Na última temporada que passei no Rio ouvi muitas músicas do chamado funk melody, que tem arranjos mais elaborados, com violões e outros instrumentos.

Infelizmente essa vertente não é ouvida fora do Rio.