sábado, 30 de abril de 2011

Heróis e túmulos


Terceiro rascunho. Como escrever sobre Ernesto Sabato? O homem que me fez “aterrisar” na Argentina, que me fez ficar desconfiado sempre que passava pelo parque Lezama, olhando em cada banco para ver se Alejandra estava à espreita. O homem que me entortou a cabeça com a loucura metódica de El tunel, que nos guiou pelos labirintos áridos de Abbadón el exterminador, e que quase completou um século de existência. Morreu hoje, aos 99 aninhos, esse velho antipático, genial, polêmico, que soube mergulhar nas profundezas da história da Argentina e nos recantos soturnos da alma de seus personagens (o miolo de Sobre héroes y tumbas é talvez a peça literária não-dostoievskiana mais inquietante que já li), o velho anarquista com seus livros loucos e maravilhosos!
Adeus Sabato, o último sobrevivente dos quatro gigantes que formam meu cânone pessoal da literatura argentina – os outros, evidentemente, são Borges, Cortázar e Arlt. Adeus ao homem, porque a obra vai ficar por muito tempo fritando nossas cabeças acomodadas. 
.

Nenhum comentário: