quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quando a bola rolar

A primeira copa do mundo que lembro ter acompanhado foi a de 82, com o super time de Falcão, Sócrates e Zico. A seleção que foi derrotada por Paolo Rossi. Lembro da empolgação a cada jogo, de minha camisa amarela, de como os passes de bola eram perfeitos, estilosos, como o jogo fluía. Hoje em dia há essa idéia estranha de que futebol arte é sinônimo de frescura e firulas desnecessárias. Futebol arte é eficiência, é técnica, é dominar a arte do futebol. Jogar bem. A vitória e a derrota fazem parte do jogo, às vezes são justas e às vezes não são. Mas futebol arte não é abrir mão de vencer para fazer gracinhas. Futebol não é uma guerra: é só um jogo.
Naquela época para o Alan criança futebol era magia e encanto. Hoje é um interesse, é filosofia, é um equilíbrio entre envolvimento e alienação. Engaja bem mais minha razão que meu sentimento. Raramente, em momentos especiais, a chama da emoção e do arrebatamento ainda brilha, ainda tenta dizer que está presente. Mas a criança sonhadora que eu era virou este adulto que luta e tem pouco tempo para devaneios.
É copa do mundo. A seleção brasileira para mim, ao contrário da maioria dos torcedores, sempre foi muito mais importante que os times. Acompanhei Grêmio e Flamengo sendo campeões do mundo nos anos 80, foi emocionante. Mas a seleção brasileira sempre teve algo a mais, algo além, que os clubes não proporcionavam. Nem mesmo quando o Paysandú foi campeão da copa dos campeões.
É copa do mundo. A derrota de 82 foi mais emocionante que as vitórias de 94 e 2002. Talvez pelo fato de ser o primeiro olhar da criança, a primeira experiência. A gênese de uma sensação.
É copa do mundo. Eu, que venho do Brasil que não tem vergonha de ser Brasil, do país que não tem pretensão alguma de ser europeu, e que se encontra muito bem na realidade da América latina, não me empolgo ainda. Eu, que amei essa camisa amarela mais que qualquer outra, que torço na contramão e penso demais quando deveria apenas sentir, não me contagiei. Eu, que ouso abrir a boca para dizer que não sou branco, que meu sangue e minha vida são decididamente mestiços, eu acompanho os fatos. Observo.
Glória ou indiferença, alienação ou revelação, o futebol está aqui, e temos que seguir aprendendo a lidar com ele. Não tenho respostas prontas, felizmente. Talvez as tenha quando começarem a tocar o hino e quando a bola rolar.

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